- O Globo
É um caso para estudo em escolas de administração. Pelo avesso. Ensina tudo sobre o que não se deve fazer. Este é o resumo desta desastrada intervenção da Presidente Dilma na Petrobras. Mas uma coisa se diga: foi coerente. Improvisada e insensata do começo ao fim. Há três meses, o então ministro da Fazenda Guido Mantega desmentia que Aldemir Bendine estivesse demissionário do Banco do Brasil.
Bendine tentava, no dia 7 de novembro, explicar o inexplicável caso do empréstimo de R$ 2,7 milhões concedido com juros camaradas a uma amiga que deu como garantia a pensão alimentícia dos filhos menores. No dia 6 de fevereiro, está ele alçado pela presidente Dilma ao posto de presidente da Petrobras. Na presidência do conselho de administração, confirmando indicação, o mesmo Guido Mantega.
Imaginemos, para alimentar algum otimismo, que reste provado que Bendine nem sabia do tal empréstimo à amiga. Ele precisará ficar se explicando deste e de outros casos. E se existe uma coisa que a Petrobras não precisa neste momento é de um presidente que tenha que ficar se defendendo. Todos os esforços devem ser para defender a Petrobras.
O perfil ideal para o cargo é ser uma pessoa que simbolize independência. O que a estatal precisa é de um executivo com autonomia. O problema da Petrobras não será resolvido por um presidente que aceite pressões políticas e cumpra ordens que contrariem os interesses da empresa. O melhor seria evitar pessoas do grupo dos amigos do governo.
O que espanta neste caso é como nenhuma solução foi pensada com antecedência. Tão longa crise e não foi tempo suficiente para o governo ter uma saída estratégica. A presidente convocou a ex-presidente Graça Foster para demiti-la e, ao mesmo tempo, pedir que ela permanecesse no cargo até a publicação do balanço. Pelo andar dos trabalhos com a PricewaterhouseCoopers (PwC), se a diretoria permanecesse, seria possível ter o resultado financeiro auditado em maio. Ou seja, Dilma estava pedindo à Graça que ficasse dependurada por mais quatro meses no cargo do qual fora demitida. Em seguida, o governo confirmou a informação de que Graça sairia, a diretoria se rebelou e pediu demissão coletiva naquela mesma noite de segunda-feira.
Contudo, na manhã da terça, o ministro da Energia, Eduardo Braga, disse que a diretoria ficaria até março. Ainda que eles aceitassem permanecer, quem, com o mínimo de bom senso, imaginaria que uma empresa em crise poderia ser comandada por uma equipe enfraquecida pela demissão anunciada?
Hoje a Petrobras é uma empresa que não sabe o valor do seu patrimônio, está no meio da mais profunda e extensa investigação policial por corrupção. A companhia tem que administrar a crise e ao mesmo tempo fazer uma gestão de dano. A imagem da empresa sofreu sério estrago junto aos seus credores, auditores, investidores, acionistas e precisa reduzir esses danos. Ao mesmo tempo, precisa se proteger contra os riscos futuros de novos rebaixamentos ou cobrança antecipada de dívida.
A demissão que causou tanto reboliço esta semana não foi causada pelo escândalo. Mas sim pela divulgação do número de R$ 88,6 bilhões de diferença entre o valor real e o valor contábil de alguns dos ativos da Petrobras. A diretoria poderia ter sido trocada por outros motivos, mas, ao ser trocada por esse, a mensagem que a presidente da República passou é de que continuará interferindo nos rumos da empresa. O risco Dilma permanece.
O governo nem fez esforço para cumprir a legislação do mercado de capitais. Deixou vazar o nome de Aldemir Bendine bem antes que ele fosse anunciado como o escolhido do controlador. Mas essa foi apenas mais uma trapalhada. Coerente até o fim.
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