Embora esteja passando por uma fase difícil, é óbvio que o PT não desistiu de seu projeto de poder. O partido certamente disputará a eleição de 2018. Tem até um candidato, Luiz Inácio Lula da Silva, que, em condições normais, seria muito difícil de derrotar.
A pergunta que não quer calar é se, em 2018, estaremos sob condições normais. É difícil, para não dizer impossível, prever. Em qualquer cenário, o partido precisará de um discurso plausível para vender ao eleitor. A crer numa corrente de pesquisadores que estuda as preferências políticas das pessoas, nossos cérebros fazem suas escolhas eleitorais aderindo a alguma das narrativas oferecidas pelos candidatos. E narrativas nada mais são do que encadeamentos de metáforas carregadas de conteúdo moral que produzem respostas emocionais no cidadão.
O plano A do PT é fazer agora um ajuste recessivo forte e rezar para que, a partir de 2017, o país esteja crescendo. Nesse caso, Lula disputaria a sucessão de Dilma como continuidade. A trajetória do PT de combate à pobreza, iniciada pelo metalúrgico em 2003, seria uma história de sucesso. A crise não passaria de um breve hiato, provocado por uma conjunção infeliz de problemas externos com conspirações internas.
O problema é que não há nenhuma garantia de que a economia brasileira responderá bem ao ajuste. Se, à medida que nos aproximarmos do pleito, a situação ainda for de crise, Lula precisará de uma narrativa diferente. Para posar de cavaleiro magnífico que vem resgatar a virtude perdida --uma imagem poderosa--, ele terá de oferecer alguma explicação de por que as coisas saíram de controle. Na versão light, põe-se a culpa nos tucanos ou na mídia. Se não convencer, Lula terá de rifar Dilma, dizendo que ela foi sequestrada pela direita ou coisa parecida. Assim, é possível que em breve comecemos a assistir a um clássico episódio de rompimento entre criador e criatura.
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