• Pedro Barusco, que fechou acordo de delação premiada na Lava Jato, afirma em depoimento a CPI que fez acerto diretamente com o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, a fim de abastecer caixa 2 da campanha presidencial de cinco anos atrás
Daniel Carvalho, Pedro Venceslau e Daiene Cardoso - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Em depoimento à CPI da Petrobrás na Câmara dos Deputados nesta terça-feira, 10, o ex-gerente executivo da Diretoria de Serviços da Petrobrás Pedro Barusco ligou o esquema de corrupção na estatal à campanha eleitoral de Dilma Rousseff em 2010,quando ela foi eleita presidente pela primeira vez. Segundo Barusco, o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, recebeu, dele próprio, US$ 300 mil para engordar o caixa da campanha.
Na delação premiada que fez à Polícia Federal em 21 de novembro de 2014, Barusco havia dito que o ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque solicitou a um representante da empresa SBM Offshore US$ 300 mil dólares “a título de reforço de campanha durante as eleições 2010, provavelmente atendendo a pedido de João Vaccari Neto, o que foi contabilizado pelo declarante (Barusco), à época, como pagamento destinado ao Partido dos Trabalhadores”.
Ontem, num depoimento de mais de cinco horas à CPI, Barusco foi questionado duas vezes acerca do assunto. Ao deputado Delegado Waldir (PSDB-GO), disse que “aqueles 300 mil (não citou a moeda) que eu disse de reforço de campanha foi na campanha presidencial de 2010”.
Algumas horas depois, indagado pelo deputado Efraim Filho (DEM-PB), reafirmou que doação era para a campanha presidencial. “Foi solicitado à SBM um patrocínio de campanha, só que não foi dado por eles (empresa) diretamente. Eu recebi e repassei (o dinheiro) num acerto de contas em outro recebimento”, afirmou. Questionou-se qual era a campanha em questão. “Foi a campanha presidencial 2010”, respondeu. Foi então questionado para a campanha de quem os recursos foram repassados. “PT, para João Vaccari Neto”, disse.
O relator da CPI, o petista Luiz Sérgio (RJ), minimizou as declarações de Barusco. “O que ouvi é que ele disse que participou apenas da negociação de porcentuais, mas não afirmou ali nem trouxe dados novos acerca de se o Vaccari recebeu ou não recebeu. Ele não trouxe nenhum dado novo a respeito desse tema”, afirmou, sem se referir à acusação de “repasse direto de Barusco a Vaccari citado na resposta a Efraim Filho.
O presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB), classificou as declarações como “relevantes”, mas defendeu que ainda é cedo para se tirar conclusões. “Isso é um processo que temos que adentrar nessas investigações. Foram declarações relevantes, mas temos outros depoimentos marcados para que, ao final, o relator possa ter a sua conclusão. Espero eu que uma conclusão imparcial e isenta de interferências”, disse Motta.
Aos parlamentares, Barusco reafirmou que eram cobrados 2% de propina em cima dos contratos firmados com a Diretoria de Abastecimento. Segundo o ex-gerente, 1% era gerenciado pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa e o outro 1% era dividido entre o PT, por meio de Vaccari, e 0,5% iam para a “Casa”, que Barusco explicou ser ele e Renato Duque.
Alvo. Vaccari foi o principal personagem das declarações de Barusco. Em diversos momentos, o delator disse que o tesoureiro recebia a propina diretamente das empresas, razão pela qual não poderia dar detalhes a respeito dos repasses ao tesoureiro.
Vaccari assumiu como tesoureiro do PT em 2010, mas não era o tesoureiro da campanha presidencial. Esse cargo era ocupado por José de Filippi Júnior, ex-prefeito de Diadema (SP).
“Percebi que quando ele (Vaccari) assumiu o cargo como tesoureiro, começou a haver reuniões”, disse Barusco, que citou os hotéis onde se reunia com eles. A CPI deve solicitar aos estabelecimentos as imagens do sistema de segurança para comprovar os encontros. “Não conheço outro operador do PT a não ser o Vaccari”, afirmou.
Procurada, a SBM não se pronunciou até a conclusão desta edição. / Colaborou Fábio Brandt
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