- O Globo
O Brasil vive um momento cheio de contradições. No curto prazo há um grave problema econômico causado por um enorme e crescente déficit em conta-corrente, que está aumentando o endividamento do país e o ameaça com uma crise de balanço de pagamentos, e uma crise de confiança interna que resulta do superávit primário que se tornou negativo e da inflação que aumentou.
No longo prazo, o quadro econômico é mais grave. Um país cujo crescimento per capita foi de 4,1% ao ano entre 1950 e 1980, passou a crescer menos do que 1% desde 1980. Está quase estagnado.
Igualmente preocupante é a crise política que está paralisando o governo. Essa crise começou em 2013, quando aos erros do governo na área econômica e ao baixo crescimento somou-se o mensalão. A partir desse momento, os ricos, inclusive a alta classe média, que não estavam satisfeitos com a clara preferência pelos pobres revelada pelo governo em um tempo de baixo crescimento, passaram a olhar o PT e a presidente não mais como adversários, mas como inimigos, e nos vimos diante de uma coisa surpreendente: o ódio substituindo o desacordo e a crítica.
Entretanto, não obstante o desgaste que estava sofrendo por boas e más razões, a presidente foi reeleita. Ganhou por uma pequena diferença, contando principalmente com o apoio dos pobres. Contou, portanto, com o apoio daqueles que têm um voto - e não com o apoio da sociedade civil, ou seja, da soma daqueles cujo poder é ponderado pelo dinheiro, pelo conhecimento e pela capacidade de comunicação e organização que cada um tem.
Ora, o poder real em uma sociedade moderna está na sociedade civil, não no povo, o que configura uma crise política grave. Mas uma crise que pode e deve ser administrada. A sociedade civil, em particular os ricos e a oposição política, precisa assumir sua responsabilidade para com a nação, aceitar a derrota nas eleições e voltar a ajudar o país a ser governado, em vez de falar em impeachment ou em tentar inviabilizar o governo. O próximo embate eleitoral é em 2018, não é agora.
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