• Era prevista a degradação político-econômica; luta política selvagem prejudica cálculos do futuro
- Folha de S. Paulo
O tumulto nacional destes quase idos de março estava escrito e poderia ser lido desde pelo menos a reeleição de Dilma Rousseff. O que virá adiante, porém, parece incalculável, talvez quase aleatório e, pois, aberto a acidentes extremos. Na falta de lideranças políticas e alianças sociais fortes que tentem colocar ordem nessa confluência revolta de incompetências e pequenezes, o risco de desastre aumenta.
Era previsível e, aliás, foi aqui e ali previsto que, ao final do primeiro trimestre do ano, por aí, haveria a conjunção exponencial das seguintes crises:
1) Apareceriam os primeiros efeitos concretos, "de rua", da crise econômica, fosse pela degradação contínua decorrente da má administração, pelos primeiros impactos do arrocho ou, caso a presidente persistisse nos erros piores, no colapso resultante do fato de que agentes econômicos antecipariam a crise de modo grave, agudo e concentrado;
2) O clima político progressivamente odiento, agravado pela eleição apertada e pelo udenismo de parte significativa do PSDB e de certa elite, degringolava já na campanha em ataques à legitimidade da eleição. Essa atitude biliosa regressiva de parte da oposição deu alento a birutas a princípio periféricos, que passaram a pregar tipos variados de golpe. A conjunção de piora econômica com o estelionato eleitoral de Dilma Rousseff agregou parcelas importantes da população à revolta antes marginal;
3) Era evidente que o rolo político do petrolão desarticularia um Congresso já desbaratado. Crise econômica e tumulto político-partidário se realimentariam;
4) A ruína da Petrobras, financeira, administrativa e, enfim, corrupta, teria efeitos na cadeia enorme de empresas relacionadas e no crédito de firmas em geral, quiçá em bancos.
De mais imprevisto foi o tamanho da incompetência política do governo. Além do mais, um mistério, pergunta-se por que Dilma rechaçou o conselho de Lula, que tenta sem sucesso tutelar ou ao menos orientar a pupila pelo menos desde junho de 2013.
Agora se torna muito difícil calcular a resultante de tantas lutas ávidas, imediatistas e particularistas para a salvação do próprio pescoço e interesses, políticos e econômicos.
O que pode ser do Congresso? Os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da Câmara, Eduardo Cunha, lutam pela sobrevivência política, assim como bancadas que haviam sido comprados para a coalizão do governo. Querem triturar politicamente o governo. Mas dão sinais de que não vão fazer política de terra arrasada na legislação econômica. Cunha o disse explicitamente; Renan negocia um acordo para o reajuste da tabela do IR que, embora não seja o ideal para o governo, é uma negociação que seria normal e razoável em qualquer Congresso.
Os líderes do Congresso podem estar sob pressão de parte das lideranças maiores do empresariado, mas parte do mundo empresarial, aliada a sindicatos, milita contra o ajuste. Há muita gente nesse salve-se quem puder imediatista. A política econômica se tornou mais incerta devido aos danos adicionais causados pelo tumulto político (juros e câmbio estão sem norte).
A confluência tumultuária de interesses imediatistas e a falta de lideranças tornou bastante imprevisível o futuro próximo do país.
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