quarta-feira, 11 de março de 2015

Na CPI, Barusco expõe divisão de propina com PT

Barusco: propina foi repassada para campanha de Dilma em 2010

• Ex-gerente diz que corrupção só passou a ser "institucionalizada" em 2003

Eduardo Bresciani e Chico de Gois – O Globo

BRASÍLIA e SÃO PAULO - O ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco disse ontem, em depoimento na CPI da Petrobras, que recebeu propina da empresa holandesa SBM Offshore e que o dinheiro foi destinado à campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República em 2010. Segundo Barusco, foi Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, quem pediu o dinheiro à empresa holandesa. A propina foi entregue ao próprio Barusco, que disse ter feito um "acerto de contas" com João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, para que o dinheiro chegasse ao partido.

O ex-gerente não esclareceu de que forma foi feito o repasse para a campanha de Dilma, se como contribuição legal ou caixa dois. Nos depoimentos da delação, Barusco já tinha mencionado um pedido de "reforço" de caixa de US$ 300 mil, mas sem especificar a qual campanha se destinava.
- Foi solicitado à SBM um patrocínio de campanha. Não foi dado por eles diretamente. Eu recebi o dinheiro e repassei num acerto de contas em outro recebimento. Foi para a campanha presidencial em 2010, na que teve José Serra e Dilma Rousseff. (A doação) foi ao PT, pelo João Vaccari Neto - contou Barusco na CPI.

"Havia uma reserva para o PT receber"
Barusco disse que recebeu propina de forma "individual" durante a gestão de Fernando Henrique Cardozo, e de forma "institucionalizada" nos governos do PT. Confirmou que dividia as propinas com Renato Duque e Vaccari. E disse que os US$ 97 milhões em contas na Suíça que se comprometeu a devolver ao fazer o acordo de delação incluem as propinas recebidas desde 1997.

Barusco registrou que, quando falou na delação que Vaccari arrecadou entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões, estava fazendo apenas uma estimativa, sem saber qual a forma pela qual o petista recebeu os recursos destinados ao PT.

- Eu estimo, considerando o valor que recebi de propina, que foi pago de US$ 150 milhões a US$ 200 milhões. Não sei como ele recebeu, se foi doação oficial, se foi lá fora, se foi em dinheiro. Havia uma reserva para o PT receber. Se recebeu, e a forma como recebeu, eu não sei - disse ele.

O ex-gerente contou que tinha reuniões com Vaccari e Duque em hotéis no Rio e em São Paulo para discutir a divisão da propina. Ele tratou o trio como "protagonista" do esquema, junto com os operadores e os donos das construtoras envolvidas no cartel que atuava na Petrobras.

- O mecanismo envolvia um representante da empresa, os próprios empresários, eu, Duque e Vaccari, são esses os protagonistas - disse.

O presidente do PT, Rui Falcão, e Vaccari divulgaram nota conjunta para defender o tesoureiro das acusações de Barusco. "João Vaccari Neto reitera que nunca tratou de finanças ou doações para o partido com o senhor Pedro Barusco, delator que busca agora o perdão judicial envolvendo outras pessoas em seus malfeitos", diz a nota: "O senhor Barusco não apresentou nenhuma prova ou mesmo indício que liguem o secretário João Vaccari Neto ao recebimento de propinas". Em nota, José de Filippi Jr, que foi coordenador financeiro da campanha de Dilma em 2010, disse que a SBM não fez doação naquele ano. Disse ainda que não conhece Barusco e que todas as doações recebidas foram legalmente registradas no TSE.

Barusco, que depôs por cinco horas e meia, explicou as diferenças da forma como recebeu propina de 1997 a 2002, quando ocupava cargos de terceiro escalão na estatal, para o que ocorreu a partir de 2003, quando ascendeu à gerência executiva, como o número dois de Duque:

- Iniciei a receber em 1997, 1998. Foi uma iniciativa pessoal minha junto ao representante da empresa (a SBM Offshore). Na forma mais ampla, em contato com outras pessoas, de forma mais institucionalizada, isso foi a partir de 2003, 2004.

Barusco disse não poder dar mais detalhes sobre a forma como recebia propinas até 2002, pois isso ainda está sob investigação do MPF.

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