• Desgastada pela crise econômica e pelos escândalos na Petrobras, com a popularidade em baixa, Dilma é obrigada a conviver com uma espécie de parlamentarismo velado
Correio Braziliense
A Presidência da República, por meio de nota oficial, informou que o ministro Pepe Vargas deixou o comando da Secretaria de Relações Institucionais e que o vice-presidente da República, Michel Temer, que preside o PMDB nacional, assumirá a articulação política do Palácio do Planalto.
Marisco na luta entre o mar e o rochedo, o petista encerrou sua melancólica passagem pelo cargo como o último a saber. Dilma, porém, pagou o mico da frustrada indicação para o cargo, na segunda-feira, do ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, que ontem anunciou que não aceitaria o posto por razões familiares.
Desde que comandou a operação política para emplacar o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) na presidência da Câmara, Pepe Vargas era alvo constante dos ataques de integrantes da base governista, especialmente dos parlamentares do PMDB.
Dilma tentou manter o velho companheiro de lidas gaúchas no posto, já que ele nada mais fez do que cumprir a orientação dela, mas, finalmente, jogou a toalha. A escolha de Padilha, veterano peemedebista gaúcho, foi outra grande patacoada. A emenda, porém, pode ter saído melhor do que o soneto.
Ao extinguir a pasta e entregar a coordenação política do governo a Michel Temer, Dilma finalmente deixou de lado o jogo de canastra no Palácio do Planalto, no qual dava as cartas, e entrou na roda de pôquer dos caciques do PMDB no Congresso. São outros quinhentos se vai conseguir fazer um Royal Straight Flush (uma sequência de 10 ao As, a melhor mão de cartas possível no pôquer texano).
Grande política
Depois de uma incrível sucessão de erros políticos, pode ser que a escolha de Temer seja um grande acerto. Dilma talvez tenha a intenção de manter o vice-presidente da República como seu principal articulador político pelas mesmas razões que a levaram a mantê-lo afastado do chamado “núcleo duro” do Palácio do Planalto: a desconfiança.
Como dizia Maquiavel, é melhor manter o possível inimigo por perto para controlá-lo. A missão dada a Temer equivale, na crise política, ao papel desempenhado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, na economia. Os dois já vinham protagonizando as negociações do ajuste fiscal. Resta a Dilma o enorme poder administrativo centralizado na Casa Civil para controlar os dois.
Pode ser que isso crie condições mais favoráveis para a aprovação do ajuste e a rearticulação da base do governo no Congresso, mas a indicação de Temer não resolve a queda de braços com os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que foram surpreendidos pela decisão.
O que querem os dois caciques do PMDB no Congresso? Não é descascar o abacaxi da descoordenação política do governo nem salvar Dilma, é ocupar o centro do poder. É a partir daí que poderemos ter desdobramentos importantes. Um deles, é a saída de Aloizio Mercadante da Casa Civil.
Renan e Cunha dizem querer uma reforma ministerial que reduza o número de pastas na Esplanada e corte pela metade os cargos comissionados, a maioria ocupada por petistas. Mas querem a cabeça de Mercadante. Dilma acredita que removê-lo do posto seria uma demonstração de fraqueza.
O ministro da Casa Civil é apontado como autor intelectual de tudo o que deu errado no Palácio do Planalto também pelos petistas, inclusive pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que gostaria de ver em seu lugar o ministro da Defesa, Jaques Wagner.
Desgastada pela crise econômica e pelos escândalos na Petrobras, com a popularidade em baixa, Dilma é obrigada a conviver com uma espécie de parlamentarismo velado, no qual a agenda política é estabelecida pelo Congresso. É para o Legislativo que convergem as grandes negociações nacionais, como ocorre com o indexador das dívidas dos estados, no Senado, e a votação da lei da tercerização, na Câmara.
É ou não a volta da grande política ao Congresso por linhas tortas?
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