"Eu tenho certeza de que a luta para recuperação da Petrobrás, que está em curso, é minha, é do meu governo, e eu tenho certeza de que interessa a todo o povo brasileiro." Essa proclamação da presidente Dilma Rousseff foi feita na solenidade de posse do ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro. São 33 palavras contidas em três linhas de texto que revelam muito sobre a personalidade da presidente da República e sua maneira peculiar de governar. Por extensão, ajudam a compreender por que o País andou para trás durante os quatro anos do seu primeiro mandato e está hoje mergulhado numa profunda crise econômica, social e política para a qual não se vislumbram perspectivas de recuperação a curto ou médio prazos (ver abaixo o editorial Recessão e corrupção).
Essa referência à Petrobrás entra como Pilatos no Credo no ambiente da posse de um ministro da Educação, mas reafirma de forma inequívoca que Dilma Rousseff é uma mulher de muitas certezas. Tem errado à beça por mais de quatro anos, mas sempre com absoluta certeza. Até porque ela tem certeza de que jamais deve admitir erros. Há quem chame isso de teimosia.
Renunciando ao "nós" apropriado a quem fala em nome de todos os brasileiros, Dilma opta pelo possessivo da primeira pessoa do singular: a luta pela Petrobrás é "minha", é do "meu" governo. Está querendo dizer, é claro, que não têm nada a ver, ela e seu governo, com os lastimáveis fatos que levam a Petrobrás a ter necessidade de "recuperação". De quem é, então, a culpa? A resposta a que o raciocínio de Dilma induz não é difícil: de todos, menos dela.
Aceitar que passou quatro anos na Presidência da República sem saber da enorme e complexa rede de corrupção que consumia as entranhas da maior estatal brasileira, empresa que ela conhece como poucos, é exigir demais da boa-fé e do discernimento dos brasileiros. A ampla dimensão do propinoduto e suas claras ligações com partidos políticos excluem a possibilidade de que tenha sido urdido e operado só por funcionários inescrupulosos da estatal, em benefício próprio. De novo: de quem é a culpa, então?
Além da pouco sutil e inútil tentativa de transferir para governos anteriores ao seu a responsabilidade pela escandalosa corrupção na Petrobrás, Dilma aproveitou a oportunidade também para defender o sistema de partilha que o governo petista impôs à exploração do pré-sal, o que, entre outros efeitos negativos, provocou um atraso de pelo menos cinco anos no início dessa exploração. E o fez, ao melhor estilo petista, acusando "eles" de estarem conspirando contra interesses do País: "Não é coincidência que, à medida que cresce a produção do pré-sal, ressurjam vozes que defendem a modificação do marco regulatório que assegura ao povo brasileiro a posse de parte das riquezas. (...)
O que está em disputa é a forma de exploração desse patrimônio e quem fica com a maior parte".
Ainda ao velho estilo de vender meias-verdades como se inteiras fossem, para a presidente o pré-sal é hoje "uma realidade" que se traduz na extração de 660 mil barris por dia: "Isso é algo importante porque é o dobro do que nós extraíamos há um ano". E, finalmente, estabeleceu alguma relação do assunto com a posse do ministro da Educação: "Isso significa que a fonte das riquezas que nós planejamos para sustentar a educação está já em atividade. E, mais do que isso, vai garantir uma renda sistemática pelos próximos anos". A verdade completa é que um ano atrás o preço do barril de petróleo estava por volta de US$ 110 e hoje mal chega à metade disso.
Sobre a comparação do sistema atual de partilha na exploração do pré-sal com o anterior, de concessões, escreveu neste jornal, no último dia 26, o senador José Serra: "A partilha sempre foi uma falsa opção porque o método das concessões estabelecido durante o governo FHC funciona muito bem do ponto de vista da prospecção, da exploração, das receitas obtidas e dos interesses nacionais".
E explicou: "Isso (a partilha) foi inventado em 2009/2010 com o propósito de servir à eleição presidencial, pois poderia facilitar aquela polarização que o marketing petista inventou e procurou exacerbar entre 'nacionalistas' e 'entreguistas' para satanizar os adversários". A polarização continua.
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