• Mapas de votação das medidas do pacote de ajuste fiscal expõem fragilidade da base de apoio do Planalto
• PT e PRB oferecem apoio mais sólido; menos da metade das bancadas do PP e PTB vota com o governo
Ranier Bragon – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Aprovadas em meio a duas derrotas na Câmara dos Deputados, as duas medidas provisórias do ajuste fiscal de Dilma Rousseff tiveram o apoio robusto, acima de 80%, de apenas duas legendas da base governista, o PT e o PRB.
Levando em consideração os dez principais partidos da coalizão que apoia Dilma e as quatro principais votações das MPs, que restringem benefícios trabalhistas e previdenciários, elas tiveram apenas 62% dos votos possíveis.
Puxando a fila dos infiéis, o PDT do ministro do Trabalho, Manoel Dias, não deu nenhum voto a favor do governo. Apesar de ter uma bancada pequena, de 19 deputados, a repercussão alimentou pressões para que a presidente Dilma demita o ministro.
A permanência de Manoel Dias está condicionada à próxima votação do ajuste, a que revê a política de desoneração da folha de pagamento de setores da economia, prevista para quarta-feira (20). Desta vez há uma promessa de apoio da sigla, que já foi a morada de Dilma Rousseff antes de ela ingressar no PT.
O PMDB do vice-presidente Michel Temer, hoje o articulador político do governo, deu às medidas 73% dos votos que poderia ter dado. PC do B, PROS, PR e PSD apresentaram taxas de fidelidade próximas da casa dos 60%.
O PP do ministro da Integração Nacional, Gilberto Occhi, e o PTB do ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro, exibiram uma taxa de fidelidade inferior a 40%, o que exigiu uma operação do governo para destravar demandas reprimidas, as principais delas relativas a cargos.
Cargos
O líder da bancada do PP, deputado Eduardo da Fonte (PE), diz que a insatisfação está relacionada com a falta de diálogo sobre as medidas e reclama que o Planalto tenha resolvido acertar só agora a distribuição de cargos, transmitindo à sociedade a impressão de que os votos são condicionados aos cargos.
No PTB, a questão dos cargos se alia ao fato de que parte da bancada negocia uma fusão com o DEM, sigla que apoiou o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e hoje assume viés oposicionista explícito.
Apesar da aprovação das duas medidas, que agora estão no Senado, o governo assistiu a derrotas, como a passagem da emenda que afrouxou as regras criadas para inibir aposentadorias precoces e conter a expansão das despesas da Previdência Social.
"Mesmo que haja questionamentos específicos a esse ou aquele ponto, há sinais evidentes de que a base está se recompondo", afirmou o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). Ele diz que há agora sintonia com a coordenação política do Planalto, chefiada por Temer.
Eleito em fevereiro para a presidência da Câmara, derrotando o governo e o PT, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) avalia que o Palácio do Planalto ainda não conseguiu consolidar a sua base.
"Não tenho dúvida de que, com o vice-presidente Michel Temer, houve melhora. Como estava, não tinha articulação, estava totalmente desarticulada. Mas acho que o governo ainda não está com uma base consolidada", afirmou o deputado.
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