• À medida que a crise avança, o chavismo sufoca ainda mais as liberdades democráticas. Agora, proíbe diretores de veículos da imprensa de deixar o país
Em mais uma agressão aos poucos meios de comunicação da Venezuela bolivariano-chavista que ainda tentam praticar o jornalismo, atividade crítica por definição, a Justiça, sem qualquer independência em relação ao Executivo, determinou que 22 diretores de veículos de imprensa não podem deixar o país. Entre os atingidos, o jornal “El Nacional”, “Tal Cual” e o site “La Patilla”.
Como o chavismo tratou de aparelhar todo o Estado venezuelano, atos do Judiciário atendem a interesses da cúpula do regime, cada vez mais autoritário. Desta vez, a pedido do “capo” Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional, militar da reserva e por isso, embora de baixa patente, considerado mais poderoso que o presidente Nicolás Maduro, sindicalista ungido por Chávez. Afinal, a Venezuela tende a uma ditadura militar, devido à conversão que Chávez fez das Forças Armadas ao bolivarianismo a seu estilo.
O motivo da decisão “judicial” é típico do autoritarismo. Os meios de comunicação venezuelanos apenas reproduziram informação publicada pelo jornal espanhol “ABC”, de que um ex-segurança de Cabellos acusa o presidente da Assembleia Nacional de ser um dos líderes de um cartel de drogas.
A notícia não chega a ser nova. Volta e meia Cabellos e mesmo militares venezuelanos da ativa são relacionados, em denúncias, ao tráfico. Também por isso há tanta atenção dos Estados Unidos — destino da maior parte da produção de drogas na América Latina — à evolução do quadro político na Venezuela.
Nada mais comum na imprensa internacional do que a reprodução de informações de outros veículos. Mas não na Venezuela. Nem em Cuba ou em qualquer outra ditadura.
Uma prova de que a Justiça venezuelana não nem independência, que funciona como uma repartição do Palácio Miraflores, é que, feita a reclamação por Cabello, logo foi determinado que os 22 acusados passassem a se apresentar uma vez por semana a um tribunal. Não demorou para que todos fossem impedidos de sair do país, como se tivessem cometido um crime hediondo. Nada mais surpreende no avanço da Venezuela rumo a uma ditadura sem margens a qualquer liberdade. O Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Imprensa e a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) fizeram, como deveriam, duras reclamações contra a arbitrariedade. Mas parte da América Latina se mantém conivente com a crescente violência com que o regime de Maduro e Cabellos sufoca a liberdade de expressão.
O Brasil, com um grande peso no continente, usa, desde a chegada do PT ao Planalto, o pretexto da “não ingerência em assuntos internos” para apoiar, pela omissão, as agressões à democracia na Venezuela. Terá responsabilidade no que de mais grave vier a acontecer em Caracas. Aliás, já tem no que ocorre hoje.
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