• Deputados viabilizam projetos e defendem parlamentar na CPI
Cristiane Jungblut / Evandro Éboli – O Globo
BRASÍLIA — O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tem fiéis escudeiros na Câmara, dentro e fora de seu partido. São parlamentares que atuam em várias linhas de frente, seja defendendo Cunha de acusações na Operação Lava-Jato ou viabilizando aprovação de projetos de interesse do presidente, como a proposta da diminuição de ministérios e da redução da idade penal. Os “Homens de Cunha” estão em postos-chave, como presidências da CPI da Petrobras, Hugo Motta (PMDB-PB); da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Arthur Lira (PP-AL); e da Comissão Especial da Maioridade Penal, André Moura (PSC-SE).
Líder sindical e envolvido em algumas das cenas mais inusitadas da Câmara nesta legislatura — a soltura de ratos na CPI da Petrobras e o voo de dólares falsos sobre a bancada do PT durante a votação do ajuste fiscal — o deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), o Paulinho da Força, é pau para toda obra à serviço de Cunha. Atuou com vigor na aprovação do projeto da terceirização, como queria Cunha, e faz a defesa do presidente na CPI.
Na última terça-feira, Paulinho foi o único a ter permissão de entrar na Presidência do Senado, no encontro a portas fechadas do presidente Renan Calheiros com Cunha. O parlamentar diz que conversa todos os dias com Cunha. Naquele dia mesmo, os dois haviam se encontrado na residência oficial da Câmara, por volta do meio-dia. À tarde, Paulinho e a Força Sindical organizaram um barulhento protesto no Salão Verde, após ter conseguido autorização da presidência para colocar seus manifestantes para dentro do plenário.
— Converso com ele todos os dias. Se ele não está aqui, vou à residência — disse Paulinho.
No partido, Cunha conseguiu eleger Leonardo Picciani (RJ), para líder do PMDB na Câmara. Mas a disputa criou fissuras com importantes aliados, como Danilo Forte (PMDB-CE) e Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), que perdeu a disputa para líder por um voto para Picciani. Vieira se reaproximou de Cunha e eles se juntaram no objetivo de confrontar o Palácio do Planalto. Assegura que os laços com o presidente permanecem fortes.
— Se eu ligo e ele não pode atender, ele me liga imediatamente ou manda mensagem. Mas nunca deixa de atender — contou Lúcio Vieira.
Na CPI da Petrobras — Cunha é investigado pelo STF nesse inquérito — o presidente escalou seu time de apoiadores. Celso Pansera (PMDB-RJ), parlamentar de primeiro mandato, é desse grupo. É defensor de Cunha, diz acreditar na sua inocência e rebate as críticas ao presidente:
— Conheço Eduardo Cunha pessoalmente desde 2013, quando me filiei ao partido. Trabalhei para sua eleição à presidente da Câmara. Estou na CPI mas ele nunca me fez qualquer pedido. Minha sensação é de que ele não tem qualquer envolvimento (no caso da Lava-Jato).
Defesa contundente
O líder Leonardo Picciani segue à risca o script de Cunha, a ponto de repetir suas expressões cotidianas. Suas orientações à bancada são discutidas com o presidente da Câmara, que tem dito que o partido vive um de seus melhores momentos.
Cunha se elegeu presidente da Câmara e deu espaços para seus aliados. Hugo Motta preside a CPI da Petrobras e, com frequência, irrita os petistas na condução dos trabalhos. Enfrentar o PT tem sido rotina também para Cunha. Motta já foi acusado pelo PT de fazer vazamentos seletivos de informações que chegam à comissão, fato negado pelo comandante da CPI.
O deputado André Fufuca (PEN-MA) é um alidado de primeira hora. Integrou a comissão que em março foi ao Hospital Sirio-Libanês, em São Paulo, para checar se Cid Gomes, então ministro da Educação e algoz de Cunha, estava de fato com problemas de saúde. Graças a esse papel, Fufuca ganhou a relatoria da CPI das Órteses e Próteses, missão que sempre dá visibilidade no Congresso. O governo havia indicado Jorge Solla (PT-BA) para a relatoria, mas ele foi preterido.
André Moura (PSC-SE) talvez seja o mais polivalente da tropa de choque. Ele trabalhou arduamente pela admissibilidade da proposta de redução da idade penal, defendida por Cunha, e conquistou a presidência da comissão que vai discuti-la. Na CCJ relatou a proposta de emenda constitucional, de autoria do próprio Cunha, que prevê a redução dos ministérios de 38 para 20. Na CPI da Petrobras, Moura foi um dos mais enfáticos defensores de Cunha, quando o presidente prestou seu depoimento, no início de março:
— Vossa Excelência (Cunha) veio aqui colocar verdadeiramente os pingos nos is. Ficou claro que Vossa Excelência foi escolhido, com todas as letras, para ser investigado. As acusações são muito frágeis. Se trata de uma tentativa de intimidá-lo pelas ações que tem feito, pautando matérias que não são de interesse do Planalto. E quem fará a reparação por ter colocado Vossa Excelência nessa berlinda? O Ministério Público? O senhor Janot? Vossa Excelência não perde, de maneira alguma, a autoridade para presidir essa Casa.
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