Célia Froufe, Victor Martins, Adriana Fernandes, Flavio Leonel e Mariaregina Silva – O Estado de S. Paulo
• Relatório do Banco Central leva mercado a apostar em ampliação da alta de juros
O Banco Central revisou ontem as estimativas para a economia, com uma piora nas previsões para a inflação e para o Produto Interno Bruto (PIB, a soma da riqueza produzida no País). De acordo com o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), a projeção para a inflação deste ano subiu de 7,9% para 9%. Já a estimativa para o PIB passou de um recuo de 0,5% para uma retração de 1,1%, o pior resultado em 25 anos. Como o BC praticamente já jogou a toalha em relação ao cumprimento da meta da inflação em 2015 (de 4,5%, podendo chegar ao limite de 6,5%), o esforço tem sido concentrado em abater as expectativas para 2016. As projeções apresentadas ontem pelo BC registraram leve recuo, de 4,9% para 4,8%.Inflação em 4,5% será atingida apenas no final do primeiro semestre de 2017, avalia, no documento, o BC. Para levar a inflação a 4,5% em 2016, o BC tem indicado que elevará os juros, o que poderia baixar as projeções de mercado e facilitar seu trabalho.
Até agora, no entanto, o BC só conseguiu esse objetivo para o período de 2018 e 2019. "A determinação do BC tem surtido efeitos positivos já", afirmou Luiz Awazu Pereira da Silva, diretor de política econômica do BC. Os economistas que mais acertam as projeções, o grupo denominado Top 5, deu uma colher de chá ao BC, ao prever que o IPCA chegará a esse patamar em 2017. A reação geral do mercado mostra, porém, que a maioria dos analistas econômicos continua cética. Um levantamento feito com 35 analistas pela Agência Estado, após a divulgação do relatório, mostrou que as projeções para 2016 variam de 4,5% a 6,5%, com a mediana em 5,43%. Já as projeções para o IPCA de 2015 estão entre 8,4% e 9,5%. Se a expectativa for confirmada, será a maior alta da inflação desde 2003, quando o IPCA fechou em 9,3%. A Agência Estado também ouviu os especialistas sobre a tendência para a taxa de juros básica da economia, Selic. A maioria dos especialistas interpretou que o BC adotou um tom mais duro no Relatório Trimestral de Inflação e estendeu a expectativa do ciclo de alta dos juros para setembro. Das 39 instituições ouvidas, 27 aguardam o fim do ciclo dealta dos juros na reunião de setembro do Comitê de Política Monetária (Copom), com a Selic subindo de 13,75% para 14,5%. Onze especialistas esperam uma última alta na reunião de julho, com alta para 14% ou para 14,25%. Uma instituição fala em fim do ciclo em outubro, com a taxa chegando a 14,75%.
Ajuste. O discurso de Awazu ontem foi de que é "imprescindível" continuar o processo de ajuste – o que o mercado interpretou como mais carga de juro. Ele declarou que levar a inflação para meta é o maior "bem" que o BC poderá entregar para a sociedade. "O processo de ajustes em curso implica aperto das condições monetárias para impedir que as pressões inflacionárias de 2015 se transmitam para a inflação de 2016." Um dos que revisaram as planilhas foi o economista-chefe e sócio do Banco Modal, Alexandre de Ázara. Para ele, não há dúvidas de que o BC está comprometido com a missão de 2016. Pelos cálculos do banco, para chegar à meta, o BC terá de promover mais duas altas da Selic de 0,50 ponto porcentual cada. Assim, sua projeção para a taxa passou de 14,50% para 14,75% ao ano ontem.
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