Os diversos indicadores econômicos, do dia 15 de junho para cá (relativos ao final de maio e já os deste mês) – do IBGE, do BC, de entidades da indústria e do comércio, do ministério do Trabalho, da agência de risco Moody’s – mostram a acentuação do processo recessivo; a intensificação do desemprego; o avanço da taxa inflacionária já chegando aos 9%; em resposta a isto a taxa Selic já projetada para 14,25%; a expansão no mês passado de 1,83% da dívida pública federal para R$ 2,5 trilhões; o descompasso entre a receita e a despesa da União, a primeira estagnada e a segunda crescendo, apesar do contingenciamento de gastos; a forte queda dos recursos dos estados e municípios, com os cortes de repasses do governo central e duros efeitos da recessão em suas receitas próprias; o anúncio feito pela Moody’s de próximo rebaixamento da nota de crédito do país para um ponto acima do de perda do grau de investimento.
Esse cenário é ainda mais agravado por avaliações da maioria dos analistas, e predominantes entre os agentes econômicos, de transferência do final deste ano para o de 2016 de uma retomada, bem modesta, do crescimento. Estimativa refletida na redução de 2% para 1% de possível aumento do PIB no próximo ano, após uma queda neste em torno de 2% que passa a ser projetada. E tal cenário vai colocando na ordem do dia a diminuição do superávit primário de 2015 para menos da metade da meta de 1,2%. Assumida pelo ministro da Fazenda Joaquim Levy como objetivo importante do ajuste fiscal e para a preservação do grau de investimento do país. Dois fatores do rebaixamento dessa meta: receita muito aquém da melhora de 5% definida no ajuste e surpresas do ministro com os custos bem maiores das “pedaladas” e dos atrasos de pagamento do governo Dilma 1.
Tanto quanto o relativo à economia, o cenário político mudou neste mês em função, sobretudo, de três fatos grávidos de significativas implicações institucionais e na sociedade. Foram eles o inédito questionamento pelo TCU à própria presidente da República sobre sua responsabilidade no descalabro das contas públicas nacionais de 2014, o desencadeamento da nova fase, a Erga Omnes, da operação Lava Jato e os resultados do Datafolha divulgado no sábado à noite (que teriam sido ainda mais negativos para a chefe do governo, seu partido e o ex-presidente Lula se a pesquisa não tivesse sido concluída na quinta-feira, antes da Erga Omnes). Os três fatos, combinados com as crescentes consequências da estagflação, ampliam a crise de governabilidade (amainada pela “terceirização” para o vice Michel Temer das relações com o Legislativo e pela aprovação parcial das medidas do ajuste). Estimulam ações parlamentares conjuntas da oposição liderada por Aécio Neves com as mesas da Câmara e do Senado, articuladas em torno do protagonismo do Congresso. E propiciam a retomada de grandes manifestações sociais de protesto que haviam sido esvaziadas, mas que agora já têm recomeço marcado para agosto.
Reações do governo às críticas de Lula
A tentativa do ex-presidente Lula de sair sozinho do “volume morto” da rejeição social ao governo Dilma, ao PT e também a ele, descolando-se da gestão da sucessora (explicitada em reunião com religiosos esquerdistas, no último sábado, e reiterada anteontem num encontro com o ex-primeiro ministro da Espanha, Felipe Gonzalez), essa tentativa, ou manobra político-eleitoral, gerou grande mal-estar no Palácio do Planalto. Por meio de reação indignada do estado-maior da chefe, que ela evitou assumir publicamente.
Trechos de reportagens de ontem do Valor e do Globo sobre tal reação: “A avaliação interna do Palácio do Planalto é de que o posicionamento do ex-presidente Lula nos últimos dias, com críticas duras ao governo e ao PT, só contribuiria para agravar a crise que contamina o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Num cenário de queda de popularidade, novas prisões de executivos na operação Lava Jato e disseminação de boatos sobre a saúde de Dilma, sobressai a percepção de palacianos de que os “comentários de Lula desagregam num momento em que o governo e o partido deveriam enfrentar juntos a turbulência”. “As declarações de que Dilma está no ‘volume morto’ por causa da baixa popularidade, e, principalmente, de que ela mentiu na campanha à reeleição ao dizer que não mexeria nos direitos trabalhistas e não faria ajuste fiscal foi o que causou mais mal-estar no governo”.
Imprensa da elite e grandes fortunas
As falas de Lula nos dois eventos – com ataques ao governo Dilma e ao PT (cujos quadros hoje “só pensam em cargos e emprego”, e no qual pregou uma “revolução por uma nova utopia” – incluíram, com destaque na de sábado, dois ingredientes da receita dessa “revolução”. Primeiro – o “controle social da mídia”, a fim de que ela seja “libertada dos grupos de elite que a dominam”, de acordo com as resoluções do partido. Segundo: a taxação das “grandes fortunas”. A qual – mesmo recusada pelo ministro Joaquim Levy pela irrelevância que teria para a geração de receita e por se situarem na contramão da prioridade do governo de atração de investimentos privados, internos e externos, e sem viabilidade de aprovação no Congresso – será outra bandeira de “frente popular” buscada por Lula como alternativa ao esgotamento do petismo.
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Jarbas de Holanda é jornalista
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