Raymundo Costa – Valor Econômico
BRASÍLIA - O PMDB cogita devolver a coordenação política do governo à presidente Dilma Rousseff, após a votação do projeto das desonerações, mas ainda não há decisão tomada. O argumento seria o de "missão cumprida", com a aprovação da última medida do pacote fiscal do ministro Joaquim Levy (Fazenda), mas na prática o que se discute é o descolamento do partido em relação à presidente da República.
Segundo integrantes da cúpula pemedebista, o processo de desgaste da presidente no Congresso se acelerou esta semana porque a pesquisa Datafolha registrou apenas 10% de aprovação da chefe do governo, mas também por causa das críticas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao governo e ao PT. A avaliação é que o próprio Lula está se descolando da presidente da República. Declarações desconexas de Dilma também contribuíram.
A decisão só não está tomada porque o vice Michel Temer e o ministro Eliseu Padilha, dublê de coordenador político e secretário da Aviação Civil, acham que o distanciamento do PMDB, neste momento provocaria um "solavanco" na economia, pondo a perder o terreno conquistado com a aprovação das medidas. Mas a ideia da devolução da articulação política a Dilma tem adeptos mesmo entre os integrantes do grupo mais próximo do vice. O ideal seria que a devolução ocorresse entre as votações na Câmara e no Senado do projeto de lei das desonerações.
A proposta da devolução ganhou corpo, nos últimos dias, também entre candidatos pemedebistas a prefeito e senador, cargos majoritários, preocupados com o desgaste eleitoral devido a proximidade de Temer com a presidente. Vice de Dilma, Temer também é o presidente nacional do PMDB e deve comandar o partido nas próximas eleições. Quem é candidato teme que o desgaste de Dilma leve de roldão não apenas o PT.
Para o público externo, o PMDB informa que terá candidato próprio na eleição de 2018 e que o partido necessariamente terá de se descolar do governo Dilma, ao longo do processo. A diferença entre as facções seria quanto à velocidade com que se daria esse afastamento. Uma ala acha que o momento correto será depois das eleições municipais de 2016, outra defende uma convenção para lançar a candidatura presidencial já em outubro.
Segundo interlocutores do vice-presidente, Michel Temer defende que a decisão do PMDB seja tomada com muita cautela. A avaliação é que o governo ainda não saiu das cordas e que a devolução da coordenação política, neste momento, seria o equivalente a um rompimento, o que acabaria com o mínimo de governabilidade alcançada desde que Temer e Padilha assumiram a função. De imediato o governo perderia completamente o controle da pauta do Congresso - que já não tem. A decisão também poderia contribuir para a perda do grau de investimento.
Na realidade, segundo apurou o Valor, o mês de outubro é o prazo com que trabalham os principais caciques do PMDB para avaliar se a política econômica vai ou não apresentar resultados. Em caso negativo, o partido ou grande parte dele deve aderir a eventuais propostas de impeachment do mandato da presidente Dilma, especialmente se Lula continuar dando demonstrações de que lavou as mãos em relação à pupila. "Nem o [Paulo] Maluf abandonou o [Celso] Pitta como o ex-presidente Lula está abandonando a presidente Dilma", diz um dirigente pemedebista. Temer equilibra-se entre a lealdade à titular do cargo e as pressões partido.
O vice é um respeitado constitucionalista, referência no direito brasileiro. Há uma corrente pemedebista para a qual Temer, se tiver que assumir as funções do titular, seria um dos poucos políticos em posição de comando com autoridade para se manifestar juridicamente sobre eventuais excessos da Operação Lava-Jato, dos quais tanto reclamam Lula e o PT. Não no sentido de acobertamento, pois a recente prisão de dirigentes da Fifa deixa claro que a globalização chegou à Justiça - alguém pode cometer um crime no Brasil e ser preso em Genebra a pedido da polícia federal americana. Mas o processo conduzido pelo juiz Sérgio Moro entraria num trilho mais jurídico que da política.
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