- Folha de S. Paulo
Enquanto Dilma Rousseff exaltava as virtudes da mandioca, na noite de terça-feira, um grupo encabeçado por dois ministros do governo Lula começou a articular o lançamento de uma frente de esquerda. O objetivo é contestar a aliança com o PMDB e torpedear o ajuste fiscal do ministro Joaquim Levy.
A ofensiva foi traçada em jantar no apartamento do senador Randolfe Rodrigues, do PSOL. Estavam lá os ex-ministros Tarso Genro (PT) e Roberto Amaral (PSB), o senador Lindbergh Farias (PT) e os deputados Alessandro Molon (PT) e Glauber Braga (PSB), além de dissidentes da Rede, a futura sigla de Marina Silva.
A frente sustenta que o ajuste deu errado e que é preciso empurrar o governo para a esquerda. Seus integrantes farão um manifesto contra a política econômica e buscarão o apoio de movimentos sociais. No sábado, eles se reunirão em São Paulo com João Pedro Stédile, do MST, Guilherme Boulos, do MTST, e dirigentes de centrais sindicais, como a CUT.
"No meio de uma crise tão grave, é uma loucura jogar o país conscientemente numa recessão. É isso o que Levy e o governo estão fazendo", diz o senador Lindbergh. "Essa política econômica é incompatível com os compromissos que a presidente assumiu na eleição", reforça Randolfe.
"As orelhas do Levy devem ter ardido", brinca o ex-ministro Amaral, que prefere definir a frente como "nacional-popular". Ele nega que o grupo esteja ligado a Lula, que tem defendido uma "frente ampla" em reuniões do PT. "Podem pensar isso, mas não é a mesma coisa", afirma.
O manifesto começou a ser redigido por Tarso e deverá ser lançado no próximo dia 6. "Vamos buscar a união das esquerdas e propor um novo pacto com base em compromissos", afirma o petista. Ele diz que a frente não se curvará a possíveis apelos do Planalto para poupar Levy ou o PMDB. "O governo tomou suas medidas e não quer recuar. Mas nós não temos que ficar em silêncio por causa da governabilidade", avisa.
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