• É equivocado Lula e seguidores cobrarem alguma proteção nas investigações da Lava-Jato, porque Justiça, MP e PF são do Estado brasileiro, não de governos
Da lista de causas do desgosto de Lula com Dilma e governo — o ajuste, a coordenação política etc. —, consta um mal-estar específico com a suposta leniência da presidente, e do próprio PT, diante de suspeições sobre o relacionamento do ex-presidente com empreiteiras.
Quanto ao PT, é difícil imaginar o que poderia fazer o partido na tentativa de blindar seu líder supremo — além de declarações e notas oficiais de praxe —, pois ele próprio não está nada bem nas investigações da Lava-Jato.
Se, com relação a Lula, o que existe até agora são ilações, acerca do PT há provas testemunhais e documentais de algum tipo de envolvimento de políticos da legenda com dinheiro desviado da Petrobras pelo esquema do petrolão. Pode ser que não soubessem que propinas estavam sendo "lavadas" na conversão em doações legais na Justiça eleitoral, mas parece haver provas contundentes da irrigação das finanças petistas e outras — partido e políticos —, por dinheiro da corrupção na Petrobras. Além de enriquecimento pessoal.
É com base nessas provas que o juiz federal Sérgio Moro tem mantido presos, a pedido do Ministério Público, executivos e acionistas de empreiteiras, e até mesmo o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. E nem sempre instâncias superiores têm aceitado pedidos de habeas corpus para os detidos, sinal de que há consistência na argumentação do juiz e promotores.
É possível que Lula e seguidores quisessem que Dilma e ministros reprovassem a atuação de Moro, MP e Polícia Federal. Como é provável que esperassem que o companheiro ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, a quem a Polícia Federal está formalmente subordinada, fizesse alguma gestão na corporação para ajudá-los.
Parece que o próprio Lula esqueceu o histórico do mensalão, o escândalo-símbolo dos seus oito anos de Planalto. Mesmo com o PT tendo nomeado boa parte dos ministros do Supremo que julgaram aquele processo, petistas ilustres foram condenados.
O lulopetismo já deveria entender que o Brasil tem uma diferença radical e positiva em relação a Venezuela e Argentina, dois países de que os petistas são admiradores: as instituições republicanas brasileiras estão cada vez mais fortes.
E com o mensalão, a Justiça, o Ministério Público e a própria Polícia Federal ganharam ainda mais contraste diante do governante de turno. É inimaginável no Brasil contemporâneo que o Planalto tenha alguma margem para manobrar na defesa de algum interesse que não seja o da lei junto ao Ministério Público, autônomo desde a Carta de 1988, ao poder independente do Judiciário e mesmo perante à PF, colocada na hierarquia do Ministério da Justiça, mas típico organismo de Estado, com prerrogativas próprias.
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