- O Estado de S. Paulo
• Não só a perspectiva, mas também a percepção são de que as coisas ainda vão piorar mais antes de melhorar
O Banco Central (BC) ainda não conseguiu convencer o mercado de que a inflação, hoje à beira dos 9,0% em 12 meses, chegará a dezembro de 2016 na meta dos 4,5%, conforme o compromisso.
O mercado que se manifesta por mei0 da Pesquisa Focus, do Banco Central, está apostando em 5,5%, não muito mais do que os 5,38%, a média das projeções das top-5, as cinco instituições que mais acertam nos seus prognósticos.
Esse desencontro é problema para o Banco Central porque demonstra que não conseguiu ainda arrastar as expectativas do mercado para seus objetivos. Ou seja, os formadores de preços ainda não estão acreditando na autoridade monetária, depois de seis meses de campanha em busca do resgate da credibilidade perdida nas lambanças que perduraram entre 2011 e 2014. Esse déficit entre a ação do Banco Central e as expectativas do mercado está reconhecido no Relatório Trimestral de Inflação, documento em que estão examinados os fatores que envolvem o comportamento da inflação e a política monetária (política de juros).
Essa é a principal razão pela qual o Banco Central promete continuar enfrentando a alta de preços "com determinação e perseverança". Em termos práticos isso significa que os juros básicos (Selic), hoje em 13,75% ao ano, continuarão subindo. Os BC watchers, aqueles que se dedicam a farejar lance a lance a política monetária, estão discutindo agora até que altura além dos 14% ao ano a Selic vai ser puxada pelo Copom.
Mas essa não é uma questão puramente técnica. É preciso ver até onde a equipe econômica do governo e o Banco Central suportarão as pressões políticas para aliviar tanto a política fiscal (administração das receitas e despesas do setor público) quanto a política monetária.
A crise está se aprofundando. Mais do que ela, aprofunda-se a percepção dos efeitos da crise, mais ou menos como nas noites frias e de chuva fina: parecem ainda mais escuras do que de fato são. E isso pode estar acontecendo agora, como o Banco Central observa no seu Relatório: "A inflação percebida pelos agentes econômicos pode estar sendo superior à inflação efetiva".
O efeito mais importante dessa percepção de que tudo está piorando é mais desânimo e baixa propensão a assumir riscos, no trabalho, nos investimentos, nas aplicações financeiras, no lazer, no consumo, nas amizades - e até no amor.
Nessas circunstâncias, para virar o astral e o jogo contra, as pessoas esperam um tranco, um efeito especial qualquer. Mas, em geral, esse tranco só funciona se as condições objetivas já tiverem mudado de qualidade. Ainda estamos longe de que isso aconteça porque as contas públicas e a inflação ainda não estão sob controle e as demais estatísticas da economia vêm mostrando deterioração crescente. Além disso, o governo mais atrapalha do que ajuda. Ou seja, não só a perspectiva, mas também a percepção são de que as coisas ainda vão piorar mais antes de melhorar.
Apenas para relembrar, aí está a trajetória dos juros básicos (Selic).
Os salários e a inflação
O ‘Relatório de Inflação’ já verifica redução do impacto inflacionário causado pelos salários. Fala de “um processo de distensão no mercado de trabalho”. Mas ainda adverte, como nas edições anteriores, para o efeito inflacionário provocado por reajustes de salários acima do índice de produtividade. Além disso, condena a existência de mecanismos que impedem a queda da inflação porque impõem reajustes salariais com base na inflação passada (indexação).
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