• Arrocho adicional de juros, problemas no ajuste fiscal e política à deriva reavivam crise
O arrocho dos juros ainda não foi o bastante; continua por mais algum tempo, confirmou ontem o Banco Central. O arrocho fiscal não seria o bastante, mas será ainda menos, pois a receita do governo cai, devido à recessão, e não aumentará o bastante, por decisão do Congresso.
Ainda que a mudança de rumos de Fazenda e BC estanque o pior da sangria de Dilma 1, o problema material de base continua o mesmo: a dívida pública vai crescer ainda além da conta inicial dos economistas de Dilma 2.
Isto posto, mais cedo do que o previsto será preciso discutir:
1) De onde o governo vai tirar o aumento extra e necessário de receita: mais impostos, privatizações, concessões, leilões, mágicas, milagres?
2) Que medidas de reforma ou planejamentos de longo prazo o governo vai adotar a fim de atenuar a impressão de que vamos naufragar? Isto é, de passar a mensagem de que, embora quebrados no curto prazo, no médio prazo teremos condições de produzir e pagar as contas, pois terá havido reformas relevantes.
Seria apenas difícil, mas não a ponto de desanimar, se a política não estivesse à deriva na barca dos loucos.
Poucas horas depois de o Banco Central praticamente decretar um arrocho adicional, com o decorrente aumento das despesas com juros no médio prazo, a Câmara decidiu explodir a segunda bomba do ano nas contas da Previdência, estendendo a regra de reajustes reais e vinculados ao aumento do salário mínimo a todos os benefícios (antes restrita a benefícios equivalentes ao mínimo).
Não haverá reajuste real do salário mínimo até 2018, pelo menos, graças à recessão. É bem provável que a presidente vete esse desvario, espera-se, assim como se espera que seja apenas alarmismo a impressão de que a presidente perdeu o resto do juízo, devida ao histórico discurso da mandioca.
A decisão doidivanas da Câmara, porém, vai ser antecipada, "precificada" e trazida a valor presente. Vai custar caro agora.
A lição a tirar é clara:
1) Não há liderança responsável pelo interesse público no Congresso, ao contrário. Há maltas incontroláveis de depredadores;
2) O governo, detestado por dois terços da população, sem programa e desmoralizado, continua a ser politicamente avacalhado.
Novidade nenhuma. Esse é o problema. Parece que se regride ao tumulto do primeiro trimestre. Ou seja, não há perspectiva segura de controle das contas do governo, o poder restante do governo foi confiscado, os escândalos de corrupção degradam ainda mais a atividade econômica, volta-se a discutir se há caminhos para o impeachment da presidente, graças ao caso das "pedaladas".
A necessidade aguda de criar um programa para acomodar e atenuar o plano inevitável de arrocho econômico repõe, de resto, o problema essencial que é Dilma Rousseff. A presidente parece ainda se agarrar à fantasia do governo "2+2": dois anos de dureza, dois de recuperação. Parece não compreender o tamanho da encrenca, a necessidade de um programa amplo de mudanças. A presidente, enfim, precisaria renunciar a si mesma, ao sistema de ideias que provocou a maior pane econômica em um quarto de século, em um país que, embora medíocre, estava ao menos relativamente arrumado
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