• Em seis meses, renovadas acusações de corrupção fazem diminuir de forma expressiva o apoio que o presidente da Câmara recebe
Hoje a atitude talvez não se repetisse. Àquela altura, porém, comandando a Câmara dos Deputados havia pouco mais de um mês, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) se mostrava tão à vontade que, mesmo sem ter sido convocado, decidiu comparecer à CPI da Petrobras para prestar esclarecimentos sobre as suspeitas que se lançavam contra ele.
Tudo não passava de opção política, sustentou o presidente da Câmara; seu nome fora incluído na lista de investigados no Supremo Tribunal Federal para "transferir a crise do outro lado da rua [Palácio do Planalto] para cá [Congresso]".
O doleiro Alberto Youssef apontara Cunha como beneficiário de propina no esquema de corrupção da estatal, mas poucos integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito julgaram oportuno dirigir ao peemedebista perguntas relacionadas com o escândalo.
Em vez disso, congressistas encarregados de questionar o deputado fluminense aplaudiram o chefe ao final de sua defesa e se revezaram no microfone no intuito de parabenizá-lo –gesto compartilhado por membros tanto da oposição como da base aliada.
Passados quase seis meses de sua eleição para a presidência da Câmara, Eduardo Cunha já não ostenta tantos asseclas dispostos a defendê-lo. Mais que isso, mesmo entre seus correligionários começa a ganhar corpo uma ideia que pareceria impensável semanas atrás: seu afastamento do cargo.
Tendo obtido 267 votos (52% do total) na disputa interna e derrotado com folga Arlindo Chinaglia (PT-SP), o peemedebista logo foi visto como alguém capaz de incomodar o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) e de fazer do Legislativo um Poder mais autônomo.
Se dirigiu votações com mão pesada, se impôs sua vontade e sua pauta ao conjunto dos deputados, se trabalhou contra o ajuste de que o país precisa, se dobrou o regimento da Casa perante seus interesses, nada disso incomodou os oposicionistas e os descontentes –desde que, naturalmente, o Executivo sentisse duros golpes.
Apesar de não ter perdido sua capacidade de fustigar o Planalto, o presidente da Câmara viu diminuir de forma significativa o apoio que recebe dos colegas em suas investidas. Quando anunciou que estava rompendo com o governo Dilma, por exemplo, ficou quase isolado.
A mudança de clima coincide com a notícia de que o lobista Julio Camargo acusa Eduardo Cunha de ter recebido US$ 5 milhões em propina. Há, além disso, rumores de que a Procuradoria-Geral da República em breve apresentará denúncia contra o peemedebista. Dados esses fatos, seus aliados entraram em compasso de espera.
Ainda que seja por puro instinto de autopreservação diante da opinião pública –e não pela adesão a princípios éticos e morais–, parecem ter percebido que o eventual recebimento de acusação formal por parte do STF, mesmo sem pressupor culpa, não pode passar sem consequências políticas.
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