O Globo
Renúncia é modo sutil de tratar impeachment. Com a clareada dada pela declaração do ex- presidente Fernando Henrique Cardoso, o PSDB tomou uma posição unificada em favor da saída da presidente Dilma diante da crise política que vivemos. O partido não reivindica para si o protagonismo para uma eventual ação de impeachment contra a presidente Dilma, mas se declara disposto a apoiar tal medida e, mais que isso, garante respaldo político ao sucessor caso o impeachment seja aprovado.
Oque estava travando as negociações políticas no Congresso em torno de Michel Temer era a insistência de um grupo de tucanos, comandados pelo presidente do partido, o senador Aécio Neves, em que a melhor solução estava na impugnação da chapa pelo Tribunal Superior Eleitoral ( TSE), o que levaria à convocação de uma nova eleição direta para presidente.
Além de fazer perder o apoio do PMDB, essa solução teria um inconveniente gravíssimo: durante 90 dias presidiria o país o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, o que inviabilizava qualquer tipo de acordo político sério, no mínimo devido à incerteza que tal situação provocaria.
Também o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, amenizou sua posição, que era a favor da manutenção da presidente Dilma no posto até 2018, quando ele se considera um candidato com potencial para ser indicado pelo PSDB para disputar a Presidência da República.
Alckmin, diante do apelo de Fernando Henrique para que os líderes tucanos uniformizassem o discurso, agora defende que é preciso aguardar as investigações do TCU para tomar uma posição sobre o impeachment. O senador José Serra já havia até mesmo se antecipado a FH na proposta de renúncia como a solução menos traumática para o país.
Na verdade, a proposta de renúncia é uma maneira sutil de tratar o impeachment enquanto não estão colocadas as premissas necessárias para sua concretização. Uma maneira também de marcar a evolução da posição do PSDB em apoio a Michel Temer, que seria o sucessor nesse caso, assim como se a presidente for impedida pelo Congresso.
As manifestações de domingo passado, expressivas em número, mas sobretudo em símbolos políticos, deram o tom dessa mudança de patamar na discussão do impeachment da presidente Dilma, que ainda é um processo em curso, mas que vai ganhando substância a cada movimento de unificação da ação da oposição e, por enquanto, dos dissidentes do PMDB.
O tempo político tem suas peculiaridades, ainda mais num governo de coalizão que não se faz por programas, mas por interesses de cada grupo político. O governo tem certamente seus argumentos, políticos e fisiológicos, para se manter no poder, embora a cada dia fique mais claro para os de Brasília que a capacidade de governar da presidente Dilma se esvai, pelas dificuldades próprias das crises, e a que vivemos é das maiores, mas principalmente pela incapacidade pessoal de fazer política.
O presidente do PSDB, Aécio Neves, com a reunião que pretende realizar na próxima semana com Miguel Reale Júnior e outros juristas, quer que os partidos, inclusive o PMDB, comecem a discutir objetivamente as ações políticas para viabilizar o impeachment, a começar pelo que chama de “blindagem” dos tribunais superiores de controle.
Essa blindagem contará também com manifestações das organizações da sociedade civil que convocaram os protestos, e todos estarão dando respaldo político ao TCU e ao TSE contra ingerências do governo, mas ao mesmo tempo estarão também demonstrando aos ministros que a sociedade não aceitará acordos por baixo do pano.
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