- O Estado de S. Paulo
O sr. e a senhora acham que a semana passada foi de arrepiar? Pois se preparem para esta semana, que não vai ser muito diferente. O ex-presidente Lula está sendo sugado para o centro da Lava Jato, a presidente Dilma Rousseff debate-se aflitivamente sem sair do redemoinho e o grupo suprapartidário pró-impeachment tenta transformar a ventania em tufão.
O Planalto segue a orientação do PMDB e acena com um pacote de corte de gastos, extinção de ministérios e sugestões para aumentar a receita, para mostrar que o governo está vivo, tem coesão e, se não há metas, há planos e vontade. Parecer é mais importante do que haver. Então, vale a definição de Dilma: não tem meta, mas, quando atingir a meta, o governo vai dobrar essa meta.
Ministros menos cotados e/ou de pastas periféricas estão suando frio. Apesar de não terem recebido, até o fim do expediente de sexta-feira, nenhum telefonema da presidente ou pedido de algum colega político para arrumarem as gavetas, eles sabem que alguém tem de pagar o pato das contas que Dilma estragou. Não seria Aloizio Mercadante, não é mesmo?
Mercadante é para Dilma como a reforma política é para qualquer governo. Toda vez que explode uma confusão, os governos correm para dizer que, agora, a reforma política vai. Toda vez que o mandato de Dilma balança, Lula, o PT, o PMDB e a Esplanada dos Ministérios juram que, agora, Mercadante cai. Assim como a reforma política nunca vem, o governo continua balançando, o ministro continua balançando e nada muda na Casa Civil. Quando mudar, poderá ser tarde demais.
Como é preciso mostrar que a presidente preside e o governo governa, troca-se a cabeça de um Mercadante pelo corte de ministérios, um confeito do bolo que tem mais efeito moral e estético do que prático e efetivo nas contas públicas. A sério, precisa passar a tesoura até no saco de bondades que Dilma brandiu na campanha eleitoral.
Ela não pode se furtar a isso, por três motivos: sem equilíbrio fiscal, nem a economia nem a política saem do buraco; as contas têm de fechar, queiram ou não Lula, o PT e os movimentos alinhados ao partido; o PMDB bateu pé e o corte é precondição para Levy, Barbosa e Mercadante empurrarem o aumento de impostos para o Congresso. Mesmo assim, sem garantias...
Do outro lado, a semana da oposição promete. O abaixo-assinado pró-impeachment é um sucesso, já há até um passo a passo impresso de como afastar a presidente e a decisão do TCU sobre as contas de Dilma em 2014 está para sair. Até lá, o deputado Eduardo Cunha ensaia o script com as oposições: vai recusar a maioria dos pedidos, deixar o do ex-ícone petista Hélio Bicudo à mão e aguardar a senha do TCU para o plenário dar prosseguimento ao processo. A ideia é tirar do Planalto e de seus aliados o discurso de que há “um golpe das elites” ou é “coisa pessoal” de Cunha.
O pedido da PF para Lula depor confere ainda mais dramaticidade ao enredo, pois a argumentação do delegado Josélio Azevedo de Sousa não é absurda. Segundo ele, Lula “pode ter sido beneficiado pelo esquema da Petrobrás, obtendo vantagens para si, para seu partido, o PT, ou mesmo para seu governo, com a manutenção de uma base de apoio partidário sustentada à custa de negócios ilícitos”. Milhões de pessoas têm a mesma suspeita desde o mensalão, reforçada agora com o petrolão.
E ninguém pode alegar que foi pego de surpresa. Em entrevista ao Estado, em 4 de julho, o diretor-geral da PF, Leandro Daiello, avisou à população, ao seu público interno e aos poderosos que, mesmo que as investigações chegassem à presidente e a Lula, nada mudaria na Lava Jato: “Nós investigamos fatos, não pessoas. Aonde os fatos vão chegar é consequência da investigação, doa a quem doer”. Falou e está cumprindo. Aliás, diferentemente de quem fala muito e não resolve nada.
Metamorfose. Surge um novo personagem em Brasília, o “Serrinha paz e amor”. Aí tem!
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