• Eles elencaram sugestões de curto prazo para reduzir o deficit de R$ 30,5 bi e pedem resultados até outubro
• Setor privado acredita que saída de Dilma agora seria ainda mais traumática para a economia do país
Valdo Cruz, Natuza Nery – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Empresários fizeram chegar ao governo a avaliação de que, com a perda do grau de investimento, a presidente Dilma Rousseff precisa agir rapidamente e mostrar resultados até outubro. Caso contrário, ficará difícil manter o apoio do setor empresarial.
A conjectura foi transmitida a interlocutores de Dilma como alerta para a necessidade da petista ser firme na definição de medidas para reequilibrar as contas públicas.
Segundo relatos à Folha feitos por dois empresários envolvidos nas articulações para segurar Joaquim Levy (Fazenda) no cargo, o setor ainda prefere que Dilma reaja e se mantenha no governo.
Para eles, um processo de saída da presidente seria ainda mais traumático para a economia, com maior incerteza a curto prazo, e reações imprevisíveis de movimentos sociais que apoiam o governo.
Mas duas semanas se passaram sem que Dilma tenha iniciado os prometidos cortes para cobrir o deficit de R$ 30,5 bilhões, exigência dos "barões do PIB" (Produto Interno Bruto) para manter o apoio.
Empresários criaram um cardápio com sugestões para reduzir o rombo. Começa com a necessidade de manter três vetos presidenciais: à extensão do reajuste do salário mínimo para aposentados, à flexibilização das regras para a aposentadoria instituída pelo fator 85/95 e ao reajuste do Judiciário que, para algumas carreiras, pode chegar a 76%.Outro item é a redução de despesas obrigatórias.
"Nas próximas cinco ou seis semanas, é preciso encontrar uma forma de compor o Orçamento. Óbvio que não dá para reformar todas as despesas obrigatórias, mas é preciso reformar algumas", disse um empresário sob condição do anonimato.
O setor privado propõe ainda a reforma do PIS/Cofins (em estudo pela Fazenda), o aumento da contribuição previdenciária do funcionalismo de 11% para 12%, além da instituição de algum imposto sobre herança –desde que não recaia sobre o patrimônio.
"Querendo ou não, ela foi eleita, não há nada contra ela juridicamente. Então, sua saída seria mais política", disse outro empresário à Folha.
Um interlocutor da presidente disse que o Planalto conta com essa avaliação para sobreviver à crise. Segundo ele, o empresariado não quer aventuras, mas também não quer ver o país "desmanchar".
No setor privado, a avaliação é que o governo precisa definir logo os cortes de gastos e aumento de receitas e garantir, até outubro, que o pacote seja implementado.
Vacilo
Nas palavras de um executivo, a presidente não pode vacilar mais porque, do contrário, haverá um agravamento da crise política e econômica até o final do ano, fazendo com que empresários que ainda estão com o governo e representam boa parte do PIB brasileiro percam a paciência com o Palácio do Planalto.
No setor empresarial, a avaliação é que a presidente subestimou a reação do mercado à decisão de enviar ao Congresso um Orçamento com previsão de deficit primário no próximo ano.
Agora, segundo executivos, ela terá de correr contra o tempo para não perder também o grau de investimento concedido pelas agências Moody's e Fitch, depois de ter perdido o da mais importante delas, a Standard & Poor's.
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