- O Globo
A presidente Dilma tem uma estranha maneira de pedir desculpas. Como se não quisesse ou não pudesse, mas tendo que admitir erros para não complicar mais ainda sua situação, fala sempre no condicional.
Na campanha presidencial, a uma semana do segundo turno, ela se viu diante de fatos cada vez mais contundentes demonstrando o que viria a ser conhecido como petrolão. Não tendo mais para onde escapar, saiu- se com essa: “Se houve desvio de dinheiro público, nós queremos ele de volta. E houve, viu!”.
Ontem, foi a mesma coisa. Depois de muito tempo sem admitir seus erros no primeiro mandato, lá veio a presidente Dilma com suas condicionais: “Se cometemos erros, e isso é possível, vamos superá- los”. Diante do estrago que está instalado no país, e com as investigações da Operação Lava- Jato chegando inexoravelmente aos gabinetes mais importantes do Palácio do Planalto, não é possível ter boa vontade com essa maneira quase sonsa de assumir os erros sem fazê- lo diretamente, adotando uma linguagem que ainda tenta esconder seus defeitos.
Da mesma maneira, é impossível que alguém se sinta seguro diante de uma presidente que, mesmo frente a fatos concretos, ainda busca subterfúgios que lhe permitam escapar da responsabilidade.
O fato é que a presidente Dilma está cada vez mais no centro da investigação sobre corrupção no governo, por ter sido beneficiada pelo dinheiro desviado da Petrobras em suas campanhas eleitorais e, necessariamente, por ter sido durante anos e anos a presidente do Conselho de Administração da Petrobras e não ter reagido, a não ser quando não era mais possível esconder o que havia acontecido.
Mesmo nessa ocasião, reagiu de maneira dissimulada, revelando todo o cuidado que lhe mereciam os diretores envolvidos nos escândalos. Nestor Cerveró, por exemplo, foi transferido de funções com os elogios de praxe, isso por que, na opinião de Dilma, foi o responsável pela compra de Pasadena com base em relatórios incompletos e falhos.
Não houve nenhuma sindicância na Petrobras para saber se Cerveró fizera aquilo, se é que fez, por má- fé ou ignorância. Sabese hoje que era de máfé, e ele, que negocia uma delação premiada com o Ministério Público de Curitiba, poderá esclarecer se não foi punido por má- fé ou ignorância de quem fazia parte do Conselho de Administração.
Outro retirado do cargo sem que nenhuma culpa lhe fosse imputada foi o ex- presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli. Temos assim que durante anos a Petrobras foi espoliada por um conluio entre empreiteiros e políticos, com o auxílio de pelo menos quatro diretores, e os presidentes da empresa e de seu Conselho de Administração nada sabiam, nada viram. Um conjunto de incompetência desse nível é difícil até mesmo de explicar.
O fato é que as investigações chegam cada vez mais perto de Dilma e do ex- presidente Lula, reduzindo a margem de manobra política que os dois têm diante de si. Os esquemas de corrupção do mensalão e do petrolão aconteceram durante os oito anos dos mandatos de Lula, quando Dilma foi, em uma sequência, ministra das Minas e Energia, ministra- chefe do Gabinete Civil e candidata a Presidência da República.
Sob sua chefia foram tomadas as medidas que resultaram em um crescimento acelerado em 2010 para elegê- la presidente, mas quebraram o país. E sob seus cuidados foram perpetrados os maiores crimes contra o patrimônio público deste país. No seu governo, essas medidas econômicas foram aprofundadas.
E ela ainda tem dúvidas se cometeu algum erro.
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