terça-feira, 8 de setembro de 2015

'Remédio amargo' é necessário, diz Dilma

• Presidente ensaia novo 'mea-culpa', dizendo que é preciso superar os erros

Dilma pede união na crise e defende 'remédios amargos'

• Presidente diz que, se houve erro no primeiro mandato, irá 'superá-los' agora

• Forças políticas deveriam pôr de lado 'interesses individuais ou partidários', afirma petista nas redes sociais

Marina Dias, Débora Álvares, Fábio Monteiro e Flávia Foreque – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff ensaiou mais uma vez nesta segunda (7) reconhecer que cometeu erros na condução da economia em seu primeiro mandato e disse que precisou administrar "remédios amargos" para enfrentar a crise que o país atravessa.

Isolada politicamente, e agora com dois ministros palacianos investigados sob suspeita de envolvimento com a corrupção na Petrobras, Dilma pediu que as forças políticas colaborem com a superação da crise pondo em "segundo plano interesses individuais ou partidários".

O pronunciamento da presidente, que substituiu o tradicional discurso de 7 de Setembro na televisão, foi divulgado nas redes sociais da internet, numa tentativa de evitar panelaços como os que ocorreram nas últimas vezes em que ela apareceu em cadeia nacional de rádio e TV.

"Se cometemos erros, e isso é possível, vamos superá-los e seguir em frente", disse Dilma. "Alguns remédios para essa situação, é verdade, são amargos, mas são indispensáveis", acrescentou.

Esta foi a segunda vez que a presidente ensaiou fazer o mea-culpa que a oposição e até aliados reivindicam desde o início do ano, quando ela se afastou do discurso da campanha eleitoral para mudar sua política econômica.

Em entrevista há três semanas, Dilma disse que demorou a perceber a gravidade da crise econômica em 2014. Desta vez, ela afirmou que as políticas adotadas em seu primeiro mandato contribuíram para as dificuldades atuais, mas justificou-se dizendo que seu objetivo era preservar empregos e investimentos.

"As dificuldades e os desafios resultam de um longo período em que o governo entendeu que deveria gastar o que fosse preciso para garantir o emprego e a renda do trabalhador, a continuidade dos investimentos e dos programas sociais", disse a presidente. "Agora, temos que reavaliar todas essas medidas e reduzir as que devem ser reduzidas."

A presidente defendeu as medidas de austeridade adotadas pelo governo, que incluíram cortes de despesas e aumento das taxas de juros, como necessárias para conter a inflação e recuperar a economia, que está em recessão.

Na semana passada, o governo enviou ao Congresso sua proposta de Orçamento para 2016 com um inédito deficit primário de R$ 30,5 bilhões, mesmo depois de aumentar impostos e cortar despesas de vários programas.

"As medidas que estamos adotando são necessárias para botar a casa em ordem, reduzir a inflação, por exemplo, nos fortalecer diante do mundo e conduzir o mais breve possível o Brasil à retomada do crescimento", afirmou.

A presidente se disse "preparada" para "conduzir o Brasil no caminho de um novo ciclo de crescimento", retomando o discurso que adotou na campanha do ano passado, e afirmou que não haverá "recuos" nem "retrocessos".

Em mais um recado indireto para a oposição, que a ameaça com um processo de impeachment, a presidente disse que o país deveria aproveitar o 7 de Setembro para "[lutar] firme na defesa da maior conquista alcançada e pela qual devemos zelar permanentemente: a democracia e a adoção do voto popular como método único e legítimo de eleger nossos governantes e representantes".

Pouco antes do vídeo com o pronunciamento entrar no ar, a presidente participou, ao lado do vice-presidente Michel Temer, do desfile cívico-militar de 7 de Setembro em Brasília. Dos seis ministros do PMDB, o partido de Temer, só um compareceu, Helder Barbalho, da Pesca.

Sob forte esquema de segurança, Dilma passou as tropas em revista e ouviu o som das bandas militares abafar vaias de manifestantes que estavam perto da rodoviária de Brasília, a poucos quilômetros dali. Nas arquibancadas em frente ao palanque das autoridades, uma claque simpática ao governo aplaudia e gritava timidamente palavras de ordem.

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