A disparada do dólar melhora substancialmente a situação da balança comercial brasileira, embora a megadesvalorização de 45% entre julho do ano passado e julho deste ano não estar conseguindo vencer a barreira do encolhimento dos principais mercados importadores. Por enquanto, observa-se a melhoria do saldo porque as exportações, mesmo com quedas substanciais (-16,3% de janeiro a agosto), caem menos que as importações (-21,3%). O câmbio está fazendo seu papel de melhorar a rentabilidade dos exportadores, cobrindo os aumentos de custos internos, que não foi pequeno, e a diminuição dos preços externos, que não atinge só as commodities, como mostram os números da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).
A recuperação dos saldos comerciais desta vez poderá ser mais demorada, por várias razões. Boa parte dos principais concorrentes do Brasil também desvalorizaram suas moedas, pois a arrancada do dólar foi global - das moedas relevantes, só o euro se valorizou, junto com o yuan, que não é plenamente conversível. A onda de depreciações reduziu o preço das mercadorias, o que seria benigno em várias circunstâncias, menos hoje, quando os bancos centrais dos países desenvolvidos ainda não venceram plenamente o risco de uma deflação. Em julho, por exemplo, os preços dos bens importados pelos Estados Unidos tiveram redução de 17%. Os combustíveis pesam bastante nessa conta, mas a queima de preços é generalizada.
O esforço exportador, mesmo com a ajuda inestimável da corrida cambial, está se chocando com a retração dos países emergentes e a pouca vitalidade das economias europeia e japonesa - os EUA e Alemanha são as grandes exceções nesse cenário. O comércio global continua perdendo força, com mostram as sucessivas revisões para baixo feitas pela Organização Mundial do Comércio, que reestimou de 5% para 4% a expansão para este ano. O viés de baixa permanece.
Os países emergentes estão sofrendo um duplo golpe. O primeiro, mais evidente, é a desaceleração da China e a queda dos preços das principais commodities dela decorrente. O outro, apontado por David Lubin, diretor para mercados emergentes do Citi, é o "colapso do comércio global a níveis não vistos em uma geração" ("Financial Times", ontem).
Os problemas do Brasil são os mesmos dos demais emergentes, só que mais graves dados seus desequilíbrios macroeconômicos. A onda de desvalorizações não está permitindo à maior parte dos países aumentar suas exportações pelo simples motivo de que as importações estão caindo em toda a parte. A constatação foi feita em estudo realizado pelo "Financial Times", que acompanhou a evolução de moedas e comércio exterior de dezenas de países emergentes desde o "taper tantrum" de 2013 - o alerta do Fed de que cogitava encerrar a fase de estímulos monetário à economia americana - já que as desvalorizações cambiais levam tempo para produzir efeitos. A conclusão foi a da retração dos mercados e da perda de efetividade das depreciações nessas circunstâncias.
A queda de 34% das compras da China, de janeiro a julho, teve impacto poderoso, especialmente sobre a venda de manufaturados dos países da Ásia, derrubando exportações da Coreia, Japão, Malásia, Filipinas, Tailândia e Taiwan, e espalhando seus efeitos negativos à Austrália, Chile e demais exportadores de commodities.
O caso brasileiro se repete com maior ou menor intensidade em vários emergentes. As receitas das vendas externas brasileiras no ano até agosto caíram em todos os mercados. Para o Mercosul, o principal comprador, recuaram 17,3%, até menos do que para a China (-21,5%) e muito menos do que os -29% para a União Europeia. As exportações de manufaturados cresceram para os Estados Unidos, mas, no comércio bilateral, diminuíram 8,1%.
No primeiro semestre, pela primeira vez desde 2009, segundo a consultoria Oxford Economics, os países emergentes provocaram contração do comércio global (FT.com, ontem). A raiz da questão é o menor crescimento. No período, o PIB desses países avançou 3,6%, o menor em mais de uma década, excetuando-se 2008 e 2009. Por algum tempo, assim, o saldo comercial positivo brasileiro dependerá de fatores negativos - a recessão, que derruba as importações, e a aguda desvalorização do real, empurrada pelas crises econômica e política
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