• Prefeito afirma que agressões não inviabilizam candidatura de principal aliado
Por Alan Gripp e Jeferson Ribeiro – O Globo
RIO - Ao receber O GLOBO na última sexta-feira, Eduardo Paes, como de costume, exibiu com orgulho fotografias e capas de jornais com suas realizações no cargo, que preenchem quase todas as paredes de seu amplo gabinete, na sede da prefeitura, no Centro. Com estilo informal, quase escrachado, contou histórias da política brasileira e fez uma análise da crise no país. Ao falar do caso Pedro Paulo, assumiu um tom sério. Paes deixou claro que não tem plano B, garantiu ter o apoio do partido para manter o seu escolhido e disse, convicto, que o eleitor entenderá as explicações do secretário, que, nesta semana, defendeu-se ao lado da ex-mulher com uma pergunta que teve grande repercussão nas redes sociais: “Quem não tem uma briga dentro de casa?”. “Aspectos da vida dele, das brigas, do casamento, são um problema dele”, afirmou o prefeito.
A revelação de que o secretário Pedro Paulo agrediu a ex-mulher pode inviabilizar a candidatura dele?
De forma nenhuma. Primeiro, eu acho que nós estamos falando de algo da vida pessoal e familiar do deputado e do secretário Pedro Paulo. Não estamos falando algo da dimensão pública dele. Na dimensão pública, ele é o quadro mais preparado para assumir essa função. Estou falando de alguém que nesses sete anos de mandato foi o “primeiro-ministro” do governo, gerenciando todas as nossas intervenções, num governo que faz muito e de que a gente se orgulha. Portanto, não acho que afeta em nada. Pedro Paulo vai ser o candidato apoiado por mim na minha sucessão.
O assunto vai ser muito explorado pelos adversários...
Eu acho que, infelizmente, faz parte da vida pública a gente ter que tratar às vezes de coisas que não encostam na nossa dimensão pública. Os adversários podem explorar, mas aí é do debate político. Eu acho que o que vai valer para o eleitor, o que deve valer para o eleitor, é tentar compreender quais são as propostas do Pedro Paulo para a cidade. Ele é preparado para isso? Que realizações que ele tem? É disso que se trata a eleição. Agora, se os adversários explorarem o aspecto da vida pessoal e familiar dele, cabe a ele se defender.
O que ele lhe contou sobre os episódios com a ex-mulher?
Olha só, eu não me interesso em nada sobre esse aspecto da vida pessoal dele. Não é problema meu. Estou aqui lidando com a minha sucessão, com minha paixão à minha cidade. Esses aspectos da vida dele, das brigas que teve com a ex-mulher, do casamento malsucedido, são um problema dele. Eu trago um caso que ajuda a gente a entender isso. Tem uma pessoa que fez história no Brasil recentemente, que é o ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal. Ele tinha um caso de agressão à sua ex-mulher. Isso é da vida pessoal dele e não atrapalhou a nomeação dele para o Supremo e seu desempenho. Nós, homens públicos, não viemos de Marte. Temos nossos problemas, nossos defeitos. Tenho os meus, vocês têm os seus, mas vocês não são homens públicos. Então, não esperem de nós, não esperem de mim, uma pessoa perfeita, sem defeitos na vida familiar e pessoal.
Na sua visão, nada da vida privada de uma pessoa que almeja a vida pública interessa para o eleitor?
Olha, algumas coisas devem (interessar). Eu acho que aconteceu uma coisa de casal, que aconteceu entre quatro paredes, que a gente não conhece as circunstâncias, interessa a eles. No dia que o Pedro Paulo tiver um problema na dimensão pública, que eu tenho certeza que não tem, você pode ter certeza que eu serei a primeira pessoa a agir.
Mas na entrevista que ele deu ao jornal “Folha de S. Paulo” ele mentiu ao dizer que a primeira agressão revelada tinha sido um episódio único. Isso não trai a confiança do eleitor?
Olha só, eu acho que o que você tem no caso do Pedro é um gesto de enorme coragem e proteção, desde o início, desse episódio da sua família, da sua ex-mulher, da sua filha. Ele está protegendo (a família) o tempo todo. E eu acho que isso mostra mais uma qualidade dele. Eu saio do ponto de vista pessoal mais bem impressionado com o Pedro, pela coragem de tratar desse assunto como ele vem tratando.
Ele mentiu para proteger a família?
Não acho que ele mentiu. Acho que ele omitiu para proteger a família.
Se é uma questão privada, por que ele decidiu pedir desculpas públicas?
Aí é uma pergunta que você pode fazer a ele. Eu só posso admirar a coragem dele. Eu já enfrentei crise na minha vida política. Mas nesse grau de campo pessoal... Como disse a ex-mulher dele ontem, essa é a exposição de uma briga de um casal com um casamento malsucedido. Só posso admirar a coragem dele de proteção (à família) e de ter enfrentado esse problema.
Que conselho o sr. deu para ele?
Eu não sou perfeito, o tempo todo eu digo isso. E acho que na vida pública a gente erra, que dirá na vida pessoal. Eu sempre aconselho que os eventuais erros que a gente comete na vida pública devem ser assumidos, quanto mais os da vida pessoal, os problemas que a gente tem. Acho que é sempre melhor lidar com os problemas, esse é sempre o conselho que dou.
O senhor não teme que esse episódio possa atrapalhar, inclusive, a sua carreira política?
Não tenho o menor temor disso. De novo, tomei a decisão de apresentar à cidade o melhor candidato, o mais bem preparado.
Tem algum plano B?
Não tem plano B . Meu plano A, B, C, D e o alfabeto inteiro é o candidato Pedro Paulo
O seu partido parece ter plano B?
Você que está dizendo. Eu desconheço totalmente. O que eu vejo é enorme solidariedade do meu partido, do (ex) governador Sérgio Cabral. O Cabral nesse episódio todo foi um dos mais enfáticos na defesa da candidatura do Pedro Paulo.
Comenta-se que o ex-governador gostaria de ser candidato a prefeito. O que há de verdade nisso?
O Sérgio Cabral é camisa 10 desse time. Ele é o titular número 1. Ele não é candidato a prefeito desde sempre porque não quer. Se quisesse ele já seria. O Cabral é o camisa 10, e o Pedro, o camisa 9. E eu estou doido para escalar aqui um camisa 11, que é o Romário (senador pelo PSB, com quem negocia apoio a Pedro Paulo). O Cabral não está no banco, ele não é reserva. O Cabral não quer ser candidato a prefeito.
O senhor queria uma chapa Pedro Paulo e Romário?
O Romário sempre manifesta que tem desejo de continuar no Senado, mas a gente acha que é muito importante o apoio dele. E a gente vem conversando isso com ele.
O PMDB está se descolando do governo Dilma Rousseff. O senhor vai trabalhar para ser candidato a presidente em 2018?
Eu não mexo uma palha para isso, eu não trato disso, eu não penso nisso. Eu pensava muito em ser prefeito e não escondia isso. Eu fechava o olhinho e sonhava em estar aqui na prefeitura. Não estou dizendo que não quero ser presidente da República. Eu não paro para ficar pensando nisso e nem pauto minhas atitudes por isso. Agora eu sou um cara da política. Eu acho que o mais natural para mim, estou aqui abrindo, é ser candidato a governador. Mas nem nisso eu penso.
O senhor acha que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, tem condições de continuar no cargo após as revelações de que possui dinheiro não declarado na Suíça?
Olha só, acho que todo mundo tem direito a defesa e acho que ele tem que exercer o direito dele. Ele está lá no Conselho de Ética e vai ser julgado por isso. Não me peça para fazer julgamento de valor porque eu não conheço os detalhes. Acho que a situação dele é muito delicada e difícil.
Mas no cargo ele pode influir no funcionamento do conselho, nos prazos?
Mas aí é cobrar do conselho que não se deixe operar. Eu estou muito distante de Brasília. Eu adoro levar minha vidinha aqui no balneário. O grau de radicalismo que está se adotando em Brasília está prejudicando a dona Maria ali na esquina.
O senhor conversou com Eduardo Cunha sobre esse cenário?
Eu não converso com o deputado Eduardo Cunha já faz um tempo. Ao longo deste ano, nas oportunidades que tive de conversar, sempre foram conversas no sentido de dizer que compreendo sua posição de não ter o apoio do governo para se eleger, mas a posição de presidente da Câmara é uma posição institucional.
O senhor sentiu nele vontade de desempenhar papel institucional?
Há demonstrações claras de que não.
O senhor acha que a presidente chega ao fim do mandato?
Não vejo motivos para que não. A gente como brasileiro devia torcer para isso acontecer. Impopularidade, erro de gestão, isso não pode ser motivo para a gente impichar um presidente. A não ser que exista casos de crime de responsabilidade.
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