- Folha de S. Paulo
Os jornais ao longo da semana divulgaram inúmeras vezes que o ministro Levy estaria por um fio. Argumenta-se (e essa parece ser a interpretação do ex-presidente Lula) que o ministro Levy é samba de uma nota só. Só fala de ajuste. O ministro Levy não olha para a frente nem dá esperança.
Assim seria necessário trocá-lo por Henrique Meirelles, por exemplo, que parece ser o nome preferido do ex-presidente Lula. Meirelles conseguiria colocar a economia para rodar. O crédito iria movimentar a economia e relançar o crescimento. Seria o futuro.
Muito difícil entender o movimento. Se é que houve de fato movimento.
O ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles é colunista destaFolha. Colega, escreve à pág. A2 aos domingos. Qualquer leitor de suas colunas sabe que Meirelles não advoga que haja excesso de capacidade ociosa generalizada e que, portanto, a inflação está prestes a despencar. Não é por falta de crédito que a economia recuará neste ano 3,3%.
Por outro lado, não é verdade que o ajuste da economia engasgou porque o ministro Levy canta o samba de uma nota só. Muito pelo contrário. O ajuste ia muito bem, obrigado, até junho aproximadamente.
O deficit externo tem recuado fortemente e as expectativas de inflação até aquela data caíam e sinalizavam IPCA abaixo de 5,5% em 2016 e na meta em 2017. A convergência da inflação à meta é o final do ajuste cíclico. Sua materialização cria as condições para a redução da taxa de juros e, com ela, a retomada do crescimento em bases sustentáveis.
O ajuste cíclico de Levy desandou porque ele não conseguiu construir caminho para termos superavit primário da ordem de 2,5% do PIB em dois ou no máximo três anos.
A percepção de que a dívida pública cresce como bola de neve e de que não há capacidade política para alterar essa dinâmica impede a retomada do investimento, eleva o risco-país e com ele o câmbio, o que contamina as expectativas de inflação. O ajuste cíclico desanda.
Levy não conseguiu construir primário que estabilize a dinâmica da dívida, pois essa construção depende de todo o governo e de um acordo político que envolva boa parte do Congresso Nacional.
É necessário aprovar reformas que estabilizem o gasto primário do governo como proporção do PIB, com vistas a tornar a política fiscal sustentável e estancar a trajetória, hoje explosiva, da dívida pública.
A profundidade do estelionato eleitoral e o entendimento por parte dos políticos não petistas, que pode ou não ser correto, de o petismo representar projeto hegemônico bolivariano impedem que haja entendimento no Congresso em torno de agenda fiscal mínima.
Por mais preparado que o ex-presidente do Banco Central seja, ele, como também Levy, não é um deus. Economistas e executivos extremamente bem preparados não são mágicos. Não têm poder de transformar um deficit primário de 1% a 2% do PIB em superavit de 2,5%. Quem consegue tais mágicas pedala e varre problemas para baixo do tapete. Não tem dado bons resultados.
Dado que injustamente o desacerto fiscal foi fulanizado na figura do ministro Levy, alguns imaginam que um novo regime requeira a troca de guarda na Fazenda. Antes, no entanto, seria preciso construir a coalizão partidária que dará suporte ao novo ministro.
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