• Empresa de Mauro Marcondes fez repasses à LFT Marketing Esportivo, de Luís Cláudio, que teria recebido R$ 2,4 milhões
Carla Araújo - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Em depoimento à Polícia Federal, o empresário Luís Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o lobista Mauro Marcondes, da consultoria Marcondes & Mautoni, não conseguiram esclarecer os contratos entre a empresa do filho do ex-presidente e a consultoria, de acordo com reportagem da revista Época. Segundo a revista, "é como se um não soubesse por que pagou e outro não soubesse por que recebeu".
Marcondes optou por ficar em silêncio em boa parte de seu depoimento e não soube explicar como escolheu a empresa do filho de Lula. Ele, entretanto, admitiu que sabia que o valor pago pelo serviço era "absurdo". Segundo o empresário, um estagiário de sua empresa fez uma pesquisa "superficial" de preços antes de contratar Luís Claudio. "Ele constatou que eram (valores) absurdos", disse Marcondes no depoimento, de acordo com a revista.
Apesar da constatação de valores "absurdos", empresa de Marcondes fez repasses à LFT Marketing Esportivo, aberta em março de 2011 por Luís Cláudio, que teria recebido R$ 2,4 milhões. O filho do ex-presidente é alvo da Operação Zelotes, que apura esquema de corrupção no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), órgão vinculado ao Ministério da Fazenda.
Luís Cláudio declarou à Polícia Federal que prestou serviços à Marcondes & Mautoni nos anos de 2014 e 2015 e, por isso, recebeu "os valores que foram contratados". Marcondes & Mautoni está sob suspeita de compra de Medidas Provisórias para favorecer o setor automotivo.
Em seu depoimento, de acordo com a revista, Luís Cláudio não apresentou relatórios que comprovassem os serviços prestados. À Polícia Federal, ele disse que produziu relatórios e que ficou com cópias, mas que havia entregue a seus advogados depois da reportagem de O Estado de S. Paulo revelar a ligação de Luis Claudio e Marcondes, suspeito de "comprar" medidas provisórias editadas entre 2009 e 2013 para favorecer montadoras, por meio de incentivos fiscais. Em 26 de outubro Marcondes foi preso.
Vazamento. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, determinou que a Polícia Federal (PF) faça a apuração do suposto vazamento do depoimento de Luis Cláudio nas investigações da Operação Zelotes, segundo informações da assessoria do MJ.
O ministro decidiu pedir a investigação depois que a defesa de Luis Cláudio protocolou uma representação na última sexta-feira. Os advogados podem que seja analisado se houve vazamento das informações dadas pelo empresário aos policiais federais.
Defesa. O advogado de Luís Cláudio, Cristiano Zanin Martins, publicou uma nota na qual reafirma a experiência de seu cliente na área esportiva, critica o vazamento de documentos, diz que a revista "manipula as informações contidas no depoimento". Segundo ele, "não é verdade" que Luís Cláudio tenha dito à PF que "nunca havia feito um projeto parecido ao que entregou à Marcondes & Mautoni". "A afirmação que consta no depoimento vazado à revista é que o trabalho entregue ao contratante foi original, pois não havia sido feito anteriormente para outro cliente, considerando que o objeto do estudo se dá em situação nova para o próprio País, caso da preparação do Brasil para os megaeventos, como a Olimpíada de 2016, onde conta a experiência dos demais países na execução desse tipo de evento", explica Martins.
Segundo o advogado, o filho do ex-presidente esclareceu em seu depoimento que todos os serviços prestados à Marcondes & Mautoni e, no dia seguinte, entregou à Polícia Federal, por intermédio de seus advogados, todos os contratos firmados com tal empresa e, ainda, todos os materiais relativos aos trabalhos realizados. "A própria revista confirma que também no caso dos contratos estes foram vazados", diz.
De acordo com Martins, os relatórios produzidos atestam a entrega do trabalho previsto em contrato e está no plano da contabilidade da empresa, disponível aos órgãos competentes.
"Reiteramos nosso repúdio a qualquer tentativa de manipulação de documentos vazados de uma investigação policial na qual Luís Cláudio já prestou todos os esclarecimentos e afastou qualquer ligação com os possíveis ilícitos investigados", diz o defensor.
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