• Empresário que pagou a Luís Cláudio admite ‘valor absurdo’ por projeto
- O Globo
Em depoimento à Polícia Federal, o filho caçula do ex-presidente Lula, Luís Cláudio da Silva, demonstrou dificuldade para explicar os R$ 2,5 milhões que recebeu por serviços prestados ao escritório de advocacia Marcondes & Mautoni, de São Paulo. Os depósitos foram feitos entre 2014 e 2015. Um dos sócios do escritório é Mauro Marcondes, ex-vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), preso no dia 26 de outubro na Operação Zelotes, que investiga a compra de MPs e o tráfico de influência no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), no Ministério da Fazenda.
A revista “Época” teve acesso ao depoimento de Luís Cláudio, prestado no último dia 4 de novembro.
Marcondes, em depoimento também divulgado pela revista, admitiu que sabia que o valor pago estava acima dos preços de mercado. De acordo ele, uma pesquisa de custos superficial, feita por um estagiário do escritório, constatou que os valores “eram absurdos”.
Em 1º de outubro, o jornal “O Estado de S. Paulo” publicou que Marcondes era suspeito de “comprar” medidas provisórias editadas entre 2009 e 2013 para favorecer montadoras de veículos, por meio de incentivos fiscais.
Os pagamentos foram feitos a Luís Cláudio por meio de sua empresa LFT, a título de consultoria técnica e assessoramento empresarial de marketing esportivo. A LFT não tem nenhum funcionário além do próprio Luís Cláudio. No depoimento, o filho de Lula disse aos investigadores que a empresa teve somente dois clientes até hoje: o Corinthians, time de Lula, e a Marcondes & Mautoni.
Segundo a reportagem, Luís Cláudio teve dificuldades para explicar suas qualificações para prestar esse serviço. Ele também teria sido evasivo ao explicar como opera a consultoria técnica e o assessoramento empresarial de marketing esportivo. A PF perguntou sobre um dos projetos, calculado em R$ 1 milhão, e o filho de Lula admitiu que nunca tinha feito aquele serviço antes.
A reportagem afirma que Luís Cláudio e Marcondes acertaram seis serviços, entre julho de 2014 e junho de 2015, sendo que ele teria afirmado que não executou todas operações para as quais foi contratado.
A revista obteve os contratos, que são de trabalhos relativos à Copa do Mundo, a violência nos estádios e a “elaboração de análise de marketing esportivo como fator de motivação e integração nas empresas com exposição de casos e oportunidades”.
Lucro desconhecido
No depoimento, o filho de Lula não lembrou o valor desse projeto, mas disse que o cálculo foi feito a partir das horas de trabalho. De acordo com a reportagem, ele não soube responder quantas horas teve que trabalhar, nem mesmo a base de custo para seus serviços. “Que, neste momento, não tem noção de quanto foi o custo de execução desse projeto; que também não sabe, neste momento, declinar a margem de lucro obtida nesse contrato”, diz o documento obtido por “Época”.
A PF perguntou para Luís Cláudio por que a Marcondes & Mautoni escolheu a empresa LFT para a consultoria. Luís Cláudio teria dito: “Que Mauro Marcondes nunca explicou ao declarante por que optou por contratá-lo; que não sabe dizer se Mauro Marcondes realizou alguma pesquisa de mercado antes de contratar o declarante”, diz o depoimento.
Também em depoimento à PF, Marcondes não respondeu por que a escolhida foi a empresa do filho de Lula.
Projeto original
Procurado pela revista, o advogado de Luís Cláudio, Cristiano Zanin Martins, disse que o cliente, profissional da área privada, já prestou às autoridades todos os esclarecimentos que lhe foram solicitados. Em nota enviada à imprensa ontem, a defesa do filho de Lula negou a informação de que seu cliente não havia feito nenhum projeto parecido ao que entregou à Marcondes & Mautoni.
“A informação que consta no depoimento vazado à revista é que o trabalho entregue ao contratante foi original, pois não havia sido feito anteriormente para outro cliente”.
O escritório de defesa informou ainda que, em seu depoimento, Luís Cláudio “esclareceu todos os serviços prestados à Marcondes & Mautoni e, no dia seguinte, entregou à Polícia Federal, por intermédio de seus advogados, todos os contratos firmados com a tal empresa”. Diz ainda que materiais relativos aos trabalhos realizados também foram entregues à PF.
“Os relatórios produzidos atestam a entrega do trabalho previsto em contrato, e a aferição exata de todas essas particularidades está no plano de contabilidade da empresa”, diz a defesa.
Os representantes da Marcondes & Mautoni não foram localizados pelo GLOBO para comentar a reportagem da revista.
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