- O Estado de S. Paulo
O mundo está perplexo e chocado com os múltiplos ataques “à liberdade e à juventude” em Paris, como disse a prefeita a capital francesa depois da noite de terror. Mas o pior é que esses ataques não foram os primeiros e não serão os últimos. E nem países pacíficos e distantes do olho do furacão, como o Brasil, estão livres.
O Brasil não é a França nem os Estados Unidos, não está na linha de frente de combate ao Estado Islâmico, mal se meteu na guerra perene do Oriente Médio e está fora do alvo até por uma questão geográfica. Mas a Olimpíada vem aí...
A Olimpíada de 2016 vai bater a Copa do Mundo de 2014 em vários quesitos. Foram cerca de mil atletas de 32 países na Copa e serão 15 mil, de 205 nações, na Olimpíada. São esperados 500 mil turistas internacionais e 25 mil profissionais de mídia. E o mais impactante, em vários sentidos: na Copa, 3,5 bilhões de espectadores estiveram de olho no Brasil; na Olimpíada, serão 4,8 bilhões.
Para estimular o turismo e particularmente a vinda de centenas e talvez milhares de viajantes norte-americanos a mais, o Brasil decidiu também suspender unilateralmente a exigência de vistos estrangeiros. É ótimo, mas pode ser péssimo. Estimula a presença, mas aumenta o risco.
Alerta máxima, portanto. Não dá para brincar quando o mundo parece de ponta-cabeça, com regiões inteiras massacradas pelo ódio religioso, as migrações em massa tornando-se a mais grave questão humanitária da atualidade e a ousadia indo ao extremo dos extremos.
Não bastasse degolar pessoas como peça de propaganda e destruir monumentos da história da Humanidade, fazer o tipo de ataque que fizeram na sexta-feira, em Paris, é o fim do mundo. Valeram-se da multiplicidade étnica da “Cidade Luz” e das migrações árabes para a França com o fim do colonialismo no Norte da África e fizeram o ataque mais cruel e mais bárbaro numa sexta-feira à noite, com a juventude entupindo restaurantes, bares e baladas, e durante um amistoso clássico na Europa, França versus Alemanha, com o presidente François Hollande presente.
Essa ação não apenas vai potencializar tristemente o racismo e a xenofobia crescente na França e no resto da Europa, como vai acender todas as luzes vermelhas no resto do mundo. Quem acaba pagando a conta, e a financeira é apenas a menor delas, somos todos nós, os cidadãos do mundo. Tome de sensores, detenções, interrogatórios. Danem-se os direitos individuais! Preparem-se todos, porque isso só tende a piorar.
O Brasil teve dois bons ensaios e passou bem no teste da Copa das Confederações e da própria Copa do Mundo de 2014, com a presidente Dilma Rousseff elogiando o núcleo de defesa cibernética do Exército brasileiro, as ações conjuntas da Polícia Federal com as polícias estaduais detectando ameaças e ameaçadores nas fronteiras. Mas a Olimpíada vai exigir muito mais.
Cresce a premência de intensificar as conexões, operações e principalmente informações entre o Brasil e seus parceiros no mundo, particularmente os Estados Unidos, os vizinhos da Unasul, a própria França e a Europa em geral.
A Olimpíada, lembremo-nos, não é um evento do Brasil, mas um evento do mundo. O Brasil precisa fazer o dever de casa e ser exemplar, mas será apenas parte na essencial questão da segurança, que hoje não é mais nacional, é global.
O problema é que os Estados Unidos têm o maior orçamento e a maior parafernália de defesa do universo, mas não detectou o 11 de Setembro, e a França vem logo em seguida, com sua famosa inteligência, seus aviões de combate, seus radares, mas foi vítima, em menos de doze meses, dos ataques do Charlie Hebdo e da sexta-feira... Se foi assim com eles, o melhor é a gente rezar para o EI ter muito mais com que se preocupar do que com uns jogos do outro lado do mundo.
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