- Folha de S. Paulo
Deu Macri na Argentina. É claro que cada pleito é um pleito, com sua história única, mas também é certo que existe uma boa dose de uniformidade nos eleitores, que reagem de forma muito semelhante a certos eventos. Isso faz com que eleições sejam até certo ponto previsíveis, sobretudo quando marcadas por mudanças no ciclo econômico ou por acontecimentos dramáticos como atentados terroristas.
E uma das lições que podemos extrair do histórico mundial de pleitos é a de que o populismo econômico funciona, mas só até certo ponto. Governantes têm condições de mexer os pauzinhos para retardar a chegada de recessões ou mesmo para turbinar a sensação de bem-estar quando a situação é favorável. Não podem, porém, sustentar ilusões indefinidamente. Mais cedo ou mais tarde a realidade acaba se impondo.
No caso da Argentina, a conta aparecia mais ostensivamente na forma de inflação, que já ronda os 30% anuais. Outros problemas, como a sobrevalorização do peso e o buraco fiscal, embora menos perceptíveis para a população, já afetavam pesadamente os exportadores.
É interessante aqui o paralelo com o Brasil, que, ainda que em outra escala, também abusou de truques para fazer parecer que a economia ia bem quando não ia. Mas Dilma Rousseff, ao contrário de Cristina Kirchner, tinha um candidato (ela mesma) e teve êxito em reelegê-lo. Quando, porém, ficou claro que a petista mentiu a não mais poder durante a campanha, o preço apareceu na forma de uma crise política que agora magnifica as dificuldades econômicas.
O irônico aí é que teria sido melhor para o PT que Dilma tivesse perdido para o PSDB. Nesse caso, Lula poderia atribuir a crise às políticas neoliberais dos tucanos e voltar forte em 2018. Com a vitória, será difícil para o PT fugir das suas responsabilidades.
Já Cristina está com o caminho aberto para 2019. Lá como cá, a economia piora antes de melhorar.
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