Por Cristian Klein – Valor Econômico
RIO - Reunidos na convenção que renovou o mandato da direção estadual do PMDB, os maiores caciques do partido no Rio aproveitaram o encontro para fazer uma espécie de ato em desagravo ao secretário municipal de Governo Pedro Paulo Carvalho, pré-candidato do prefeito Eduardo Paes à sua sucessão no ano que vem. Os líderes do PMDB reafirmaram que Pedro Paulo é o candidato a prefeito da legenda e que não existe um plano B. "Só existe plano P", disse o presidente estadual do PMDB, Jorge Picciani, em referência à inicial do nome do braço-direito de Paes. O ex-governador Sérgio Cabral negou que seja uma alternativa. "Não sou candidato", disse, ao final da convenção, esquivando-se dos jornalistas.
Pedro Paulo teve a pré-candidatura abalada depois que notícias vazadas à imprensa mostraram que o secretário agrediu sua ex-mulher, em 2010, chegando a lhe quebrar um dente. O Ministério Público do Rio já encaminhou o inquérito à Procuradoria-Geral da República em Brasília, pois o pemedebista é deputado federal licenciado e tem foro privilegiado. Questionado sobre essa ação do MP estadual, Pedro Paulo disse que já havia comentado "o que tinha que comentar" sobre o assunto.
Na convenção, tudo girou em torno da demonstração de que o partido está unido na defesa do secretário de Paes. Em clima eleitoral, havia faixas de apoio a Pedro Paulo, e o auditório estava repleto de militantes mulheres ocupando as primeiras fileiras. Durante os discursos, os líderes do PMDB defenderam Pedro Paulo, alegando que os vazamentos partem dos adversários políticos, que já "começam a usar concessões públicas" e "misturam religião com política", como disse Picciani. "Vamos responder na política, e os excessos, na Justiça", disse o presidente estadual.
Indagado na saída sobre quem seria responsável pelas denúncias, Paes adotou o mesmo tom. "Ah, quem tem rede de TV aberta? Sei lá, é o que dizem as más línguas", disse. O governador Luiz Fernando Pezão, em discurso inflamado, referiu-se ao episódio como "fofocas", embora a agressão de Pedro Paulo tenha sido registrada pela ex-mulher, Alexandra Marcondes, em boletim de ocorrência. Os ferimentos foram atestados por exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal. "Se quiserem ir para o pau, nós vamos pro pau. Não temos medo de rede de televisão, de picareta de pastor R$ 1,99. Mostramos isso na eleição [a governador]", afirmou. No ano passado, Pezão venceu o segundo turno sobre o senador Marcelo Crivella (PRB), bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), que é pré-candidato à prefeitura. A TV Record é ligada à Iurd.
Apontar um inimigo externo foi uma das táticas para a demonstração de unidade, embora haja suspeitas de que o vazamento tenha sido fogo-amigo. Paes fugiu do assunto. "Tenho uma cidade para tocar", evitou. Já Picciani negou que tenha dito que a candidatura de Pedro Paulo ainda não é definitiva. "O que eu disse é que vamos acompanhar as pesquisas [para avaliar o apoio]. Não só em relação ao Pedro Paulo, mas como de todos os outros candidatos a prefeito do PMDB. Vamos deixar o povo fazer o julgamento", afirmou. Os filhos de Picciani - Leonardo, líder da bancada federal do PMDB, e Rafael, secretário municipal de Transportes - são cotados como possíveis substitutos caso o partido decida negar candidatura a Pedro Paulo. Rafael já é o vice na chapa.
Ao atacar os adversários regionais, Pezão mandou recado até para a direção nacional do PMDB, na qual há integrantes que já avaliam a situação de Pedro Paulo como insustentável. O governador disse que o Rio é a maior seção estadual do partido, defendeu candidatura própria à Presidência da República em 2018 e destacou que os rumos do PMDB nacional agora passarão sempre "pela avenida Almirante Barroso, 72", endereço do diretório fluminense. "Vamos ganhar na capital e na maioria das cidades do Rio, e fazer o que assusta muita gente, até dentro da direção nacional do PMDB. Não vai ter eleição nacional sem passar por aqui", afirmou.
O projeto do PMDB do Rio até 2018, por enquanto, inclui aliança com o PT. Em discurso, Pedro Paulo mencionou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como inspirador de uma política que favoreça os mais necessitados: "Gerir uma cidade é olhar para quem mais precisa. Aprendi uma coisa com o presidente Lula, que diz o seguinte: quando a gente pega o orçamento é igual pegar uma família para cuidar. Sempre tem um [filho] que precisa mais do pai e da mãe".
Preocupado com a aliança entre PT e PMDB no Rio, o senador mineiro e presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, articula uma frente de oposição com vários partidos, entre eles o PSB, do senador Romário, cujo apoio também é buscado pelo PMDB de Eduardo Paes.
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