• Dilma resistiu aos maiores protestos feitos no país
-- Valor Econômico
Se dependesse apenas do presidente do PT, Rui Falcão, o impeachment da presidente Dilma Rousseff seria votado já. Falcão avalia que os últimos sucessos do governo no Congresso demonstram que os aliados conseguiram reagrupar força suficiente para barrar a proposta de afastamento até o fim deste ano, engatilhar algumas medidas para 2016, como a CPMF, e limpar a área a fim de dar mais tranquilidade para Dilma enfrentar as dificuldades previstas para o próximo ano.
Tem mais gente no PT que pensa como Rui. Difícil é classificá-los: otimistas ou esperançosos. O certo é que têm a resistência dos sobreviventes. Uns e outros acham também que já começou a campanha eleitoral de 2018 e que o objetivo da oposição é inviabilizar a candidatura do ex-presidente Lula e a cassação do registro do PT. Sobre essa base está sendo tecida a estratégia do governo para reagrupar os sobreviventes que chegarem ou ainda podem chegar à praia.
Na política, o Palácio do Planalto voltou a respirar, mas a qualidade do ar é duvidosa. A votação do veto da presidente ao aumento dos servidores do Judiciário é um bom exemplo. Apenas 132 abnegados governistas se dispuseram a atravessar a madrugada deserta de Brasília e aparecer no Congresso para dizer "sim" a Dilma. É o que pode ser chamado de núcleo duríssimo da coalizão. Havia 11 presentes que preferiram se abster. Ficaram na tocaia. Esperançoso é quem acha que a maioria dos 119 ausentes não mostrou a cara para não se comprometer com os servidores do Judiciário.
Nunca é demais lembrar que o governo precisa de apenas 171 votos para barrar a proposta do impeachment. Não teve isso tudo na votação do veto do aumento dos servidores, mas este era um embate reconhecidamente difícil contra uma corporação numerosa, organizada e muito bem articulada politicamente. Mas foi o bastante para o PT considerar fechada a conta do impeachment, ao menos para o público externo.
Retrospectivamente, o desastre de 2015 começou a ser desenhado em 29 de dezembro de 2014. Naquela noite, os telejornais mostraram o então ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, anunciando um pacote fiscal recheado de medidas que Dilma renegara durante a campanha eleitoral. Coisas como a mudança de regras para a concessão do seguro-desemprego. Faltou clareza (ou transparência) para explicar uma mudança justificável. Basta lembrar que a concessão do seguro só aumentava enquanto o desemprego só caia. Evidência clara de fraude na execução do programa.
O tom do enunciado de Mercadante deveria ser o de que as medidas serviriam para "corrigir as distorções". Para ser justo, o ministro usou apenas uma vez a palavra "ajuste", ainda assim sem associá-la a "fiscal". Mas a conta foi para seu bolso. Talvez pelo tom grave e circunspecto que Mercadante imprimiu ao anúncio, as medidas emplacaram como o que de fato eram, um rigoroso "ajuste fiscal" cujos efeitos estão sendo sentidos agora.
A propósito, o que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de fato quer do ministro Joaquim Levy (Fazenda) é que ele pare de tocar só a tecla do "ajuste fiscal". Não é que o ajuste não deva ser feito ou não seja necessário, mas o que Lula quer é que Levy passe a falar também em crédito, investimento e crescimento da economia.
Em dezembro de 2014, a reprovação de Dilma no Ibope estava em 27%; em março de 2015, com as medidas do ajuste reveladas, já alcançava quase dois terços (64%) dos eleitores. Fernando Henrique Cardoso também teve problemas de popularidade no primeiro ano do segundo mandato - em setembro de 1999 o Datafolha registrava que FHC era aprovado por menos de 10% dos eleitores e rejeitado por quase dois terços dos entrevistados.
É possível que o 29 de dezembro de 2014 seja lembrado como o dia em que Dilma caiu. O eleitor, por mais de uma vez, já mostrou que não gosta de ser feito de bobo. Mas é digno de registro o fato de que não tem sido fácil o primeiro ano do segundo mandato dos presidentes brasileiros, desde que a reeleição foi estabelecida, em 1997. Seu primeiro beneficiário, Fernando Henrique Cardoso, reeleito em 1998 chegou ao fim de 1999 com a maioria dos principais indicadores econômicos em situação pior que 12 meses antes, na eleição (veja a ilustração abaixo). A diferença está na política.
Há um outro aspecto a ser considerado no enterro que o PT tenta fazer do impeachment: a fragilidade e divisão da oposição, que não conseguiu criar uma alternativa viável à presidente Dilma Rousseff, no ano que pode passar à história como o pior de seu governo.
Desde março, Dilma enfrentou duas manifestações-gigantes e uma média, as primeiras delas medidas na faixa do milhão de pessoas. Não se via nada igual desde as célebres jornadas de junho de 2013 - mas não apareceu ninguém como opção à cadeira de Dilma Rousseff. O PT está no fundo do poço da Lava-Jato, mas a opção hoje no mercado é o PMDB do vice Michel Temer. E na situação, otimistas e esperançosos veem sinais positivos à frente. A energia elétrica não deve aumentar tanto como em 2015, por exemplo. É pouco para o tamanho da crise. Mas não deixa de ser algum alento.
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