Com dívidas de R$ 7,5 milhões em contratos de limpeza e segurança, devido à crise no estado, a Uerj suspendeu as aulas por pelo menos uma semana. O reitor Ricardo Vieiralves alegou “estado de insalubridade” no campus. Enquanto os próprios professores recolhem o lixo nas salas, alunos se cotizam para doar cestas básicas a funcionários terceirizados que estão sem salários.
Crise no Estado: Ensino inadimplente
• Às voltas com dívida de R$ 7,5 milhões e lixo espalhado pelos corredores, Uerj suspende aulas
Antônio Werneck, Luiz Ernesto Magalhães - O Globo
Com uma dívida de R$ 7,5 milhões apenas com duas empresas, a Uerj anunciou ontem que vai suspender as aulas por uma semana a partir de hoje. A decisão foi tomada pelo reitor Ricardo Vieiralves de Castro. Segundo o comunicado assinado por ele, a universidade se encontra “em estado de insalubridade por conta da descontinuidade dos serviços terceirizados, que afeta a segurança das pessoas e do patrimônio público”. A Uerj tem cerca de 23 mil alunos e 2.600 professores.
A paralisação, noticiada pelo blog da coluna Gente Boa, no site do GLOBO, é mais um capítulo da crise financeira enfrentada pelo estado. Segundo a Secretaria estadual de Ciência e Tecnologia, a Uerj deve R$ 2 milhões à empresa Dinâmica, de segurança, e R$ 5,5 milhões à Construir, de limpeza e coleta de lixo. Os serviços são prestados tanto no campus do Maracanã como no Hospital Universitário Pedro Ernesto, em Vila Isabel, que pertence à universidade. O hospital já tinha suspenso todas as cirurgias eletivas (que não são de emergência), devido à precaridade dos serviços de limpeza.
Segundo o comunicado, a paralisação se limitará às atividades acadêmicas: aulas e laboratórios. As funções administrativas não serão interrompidas. Além disso, o vestibular da instituição, marcado para o próximo domingo, está mantido. Pela manhã, funcionários terceirizados e residentes de medicina do Hospital Pedro Ernesto saíram em passeata até a Uerj, para protestar contra os atrasos nos pagamentos.
Funcionários da Construir, pedindo para não ser identificados, disseram ao GLOBO que os salários estão atrasados há dois meses. Informaram ainda que, no campus do Maracanã, o número de funcionários de limpeza está reduzido a dez no turno da manhã e sete no da tarde.
— No início do ano, éramos 80 na limpeza, para varrer e coletar lixo nos 12 andares do prédio principal e nos anexos aqui no Maracanã. Agora o número não passa de 17. A gente faz o que pode — disse um funcionário.
Com a limpeza deficiente, a sujeira tem se acumulado pelos corredores e nos banheiros. Nas salas, muitos professores passaram a fazer a limpeza, recolhendo lixo e colocando-o em sacos plásticos.
— A Uerj está totalmente abandonada. Parece que o governo está pouco se lixando para a universidade — afirmou o estudante de geografia Lucas Mofati, de 28 anos, um dos representantes do Centro Acadêmico de Geografia.
Este ano, disse Lucas, os alunos do centro acadêmico organizaram um mutirão para recolher alimentos e montar cestas básicas a serem doadas aos funcionários terceirizados.
— São pessoas que estão sem dinheiro até para voltar para casa. Uma situação dramática e absurda — afirmou. A suspensão das aulas, a terceira em três anos, causou polêmica. A professora de sociologia Lia Rocha, presidente da Associação de Docentes da Uerj, reconheceu que a situação financeira da universidade é crítica, mas classificou a decisão de “arbitrária”.
— Não houve consulta ao conselho universitário e nem ao conselho de ensino e pesquisa, que estabelece o calendário acadêmico. As aulas que eu daria amanhã (hoje), por exemplo, não sei se vou poder repor. Porque ele (o reitor) não falou nada sobre reposição. Então a forma como isso está sendo feito é ruim. A Uerj devia estar unida em sua defesa. E o reitor faz isso de uma forma autoritária — afirmou Lia Rocha.
Segundo ela, falta dinheiro para tudo:
— As bolsas dos alunos, dos residentes do hospital universitário e dos professores contratados estão todas atrasadas. Além disso, os elevadores estão funcionando precariamente. O reitor não quis dar declarações. No último dia 17, o governo do estado deixou de pagar R$ 87 milhões a 2,1 mil fornecedores porque usou os recursos para destinar R$ 900 milhões ao Rioprevidência e, assim, garantir o pagamento de aposentados e pensionistas. Agora, o prazo para quitar essa dívida é a próxima segunda-feira, dia 30. Também será o último dia para o estado pagar faturas emitidas a partir da segunda quinzena deste mês.
Associação: calote do Estado
O diretor-executivo da Associação das Empresas Prestadoras de Serviços do Rio (AEPS-RJ), José de Alencar, contesta o valor da dívida (R$ 87 milhões). Sem citar números, ele diz que o montante é bem maior, levando-se em conta restos a pagar (débitos assumidos, mas não quitados) de anos anteriores. Segundo a Secretaria de Fazenda, o total de restos a pagar chega a R$ 400 milhões
Ontem à tarde, Alencar se reuniu com diretores de empresas prestadoras de serviços. O sindicato vai tentar agendar hoje uma reunião com o governador Luiz Fernando Pezão, para tratar da dívida. Alencar, no entanto, não descarta uma paralisação geral das empresas se o pagamento não for efetuado no dia 30.
Segundo o diretor da AEPS-RJ, a situação é mais crítica em serviços essenciais como o de limpeza hospitalar e o de fornecimento de alimentação a presídios:
— Nós já consideramos um calote do estado o que está acontecendo. A orientação do sindicato é não paralisar os serviços. Mas muitas empresas podem ter que parar, por falta de recursos. O limite é o dia 30, porque elas precisam pagar a primeira parcela do 13º.
Colaborou Rafael Nascimento
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