terça-feira, 24 de novembro de 2015

Dilma deve se opor a Macri sobre Venezuela

• Presidente eleito da Argentina defende punição para Maduro

Por ser aliado do governo de Caracas, porém, Brasil deve rejeitar a aplicação da ‘cláusula democrática’contra aquele país por causa de torturas e perseguições a opositores venezuelanos

Mal foi proclamado o resultado das eleições na Argentina, o presidente eleito, Mauricio Macri, deverá ter um embate diplomático com o Brasil. Macri anunciou ontem que pedirá a suspensão da Venezuela do Mercosul por “abusos e perseguições”. Segundo autoridades do governo brasileiro, a presidente Dilma deverá se opor a essa punição. A duas semanas das eleições legislativas na Venezuela, a oposição a Maduro celebrou o fim do ciclo de 12 anos do kirchnerismo, relata

Pressão sobre Caracas

• Macri já cobra suspensão da Venezuela do Mercul e dá esperança à oposição

Janaína Figueiredo – O Globo

BUENOS AIRES - Seguindo à risca o que prometeu durante a campanha, o presidente eleito da Argentina, Mauricio Macri, reafirmou ontem sua intenção de solicitar, na próxima cúpula de chefes de Estado do Mercosul — que será realizada em meados de dezembro no Paraguai — a aplicação da cláusula democrática do bloco para suspender a Venezuela pelos “abusos e perseguições” a opositores políticos. Segundo o sucessor da presidente Cristina Kirchner, forte aliada do governo Nicolás Maduro, tais práticas “nada tem a ver com o compromisso democrático” assumido pelos argentinos. As declarações de Macri foram recebidas com enorme alívio e esperança pela oposição venezuelana, que se prepara para disputar uma eleição legislativa crucial com o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), no próximo dia 6 de dezembro.

Em entrevista ao GLOBO, a deputada cassada Maria Corina Machado assegurou que “Macri virou uma referência na América Latina e fará que outros governos assumam a mesma posição, em benefício da estabilidade regional”.

Apesar da firmeza de Macri e da expectativa dos opositores venezuelanos, não será fácil para o novo governo alcançar o consenso exigido pelo Mercosul para aplicar a cláusula democrática. Alguns governos têm se mostrado mais críticos em relação ao Palácio de Miraflores, entre eles os do Chile e do Paraguai, mas não está claro, ainda, se estariam dispostos a aderir à iniciativa do presidente eleito. A cláusula foi implementada em 2012, após o questionado impeachment do então presidente paraguaio Fernando Lugo, e deixou seu país fora do bloco até a posse do atual chefe de Estado, Horacio Cartes, em 2013.

— Acho que a cláusula democrática corresponde à Venezuela pelos abusos que está cometendo, a perseguição de seus opositores e da liberdade de expressão — afirmou o novo chefe de Estado, que confirmou ter recebido telefonemas dos presidentes Dilma Rousseff, Tabaré Vázquez (Uruguai), Michelle Bachelet (Chile), Cartes e Juan Manuel Santos (Colômbia).

‘Indiferença e cumplicidade’
Na noite de domingo, Macri teve um rápido encontro com Lilian Tintori, mulher do dirigente opositor venezuelano Leopoldo López, detido desde fevereiro de 2014 e condenado recentemente pela Justiça de seu país a 13 anos de reclusão por incitação à violência, num controverso julgamento.

— É evidente que corresponde que se aplique essa cláusula, porque as denúncias são claras, são contundentes, não são uma invenção. O testemunho de Lilian, que nos acompanhou ontem (anteontem) é claro: o que está acontecendo na Venezuela não tem a ver com o compromisso democrático que assumimos todos os argentinos — enfatizou Macri, aproveitando para destacar sua boa relação com os demais presidentes latino-americanos.

Em Caracas, suas primeiras manifestações como presidente eleito da Argentina causaram alívio entre opositores de Maduro. Na opinião de Maria Corina, “se abre uma esperança para a região”.
— Vivemos anos nos quais têm prevalecido a indiferença e a cumplicidade (da região com Maduro). A Argentina virou as costas para (o que ocorria na) Venezuela, apesar das violações dos direitos humanos e vínculos de (Hugo) Chávez e Maduro com a máfia internacional — frisou a deputada cassada, que continua proibida de sair do país.

Já Mitzy Ledezma, mulher do prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, que no começo do ano foi detido de forma violenta e continua sob regime de prisão domiciliar, afirmou que “Maduro perdeu um grande aliado” e disse ter certeza que “Macri fará muito pela democracia venezuelana”.

— Achamos que ele fará outros governos entenderem a tragédia que vive a Venezuela e que precisamos recuperar nossa liberdade — apontou Mitzy, que ontem embarcou rumo a Buenos Aires.— Não vou pedir nada, vou agradecer seu gesto de solidariedade com Antonio.

Faltando poucas semanas para as legislativas e com a preocupação de que não haverá uma observação internacional do peso que poderia ter a Organização de Estados Americanos (OEA), as Nações Unidas ou a União Europeia (todas rechaçadas pelas autoridades eleitorais do país), a Mesa de Unidade Democrática (MUD) confia na pressão da Argentina de Macri para “garantir o respeito a um resultado que as pesquisas indicam que será desfavorável para Maduro”, disse a deputada cassada.

— Não vamos permitir que nos roubem outra eleição — enfatizou Maria Corina.

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