quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Luiz Carlos Azedo: Bye-bye, Levy

• Os amigos economistas dizem que ele já deveria ter chutado o pau da barraca, mas o ministro estoicamente ainda tenta descascar o abacaxi das pedaladas que herdou de Guido Mantega.

- Correio Brazilense

O mercado financeiro já dá como favas contadas a saída de Joaquim Levy do Ministério da Fazenda. Os rumores de que será substituído pelo ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, por si só, ontem fizeram o dólar cair e a Bovespa subir. Como acontece com quase todo mundo que vai para a frigideira, Levy não se dá conta do que está acontecendo. Não tem consciência de que perdeu a liderança para conduzir a economia, minado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pelo PT e pelos colegas da Esplanada, a começar pela troica petista instalada no Palácio do Planalto.


O melhor exemplo de que ainda não caiu a ficha para Levy foi sua participação no jantar promovido pelo líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE), na terça-feira à noite, em sua residência, para cerca de 30 senadores da base e da oposição. Levy deu uma aula de economia para os presentes, mas nem por isso deixou de passar por constrangimentos ao ser duramente questionado e responsabilizado pela recessão por alguns integrantes da própria base do governo. Na verdade, desde quando assumiu o cargo, Levy foi obrigado a um corpo a corpo com os políticos para o qual nunca esteve preparado.

A carta que distribuiu ontem para narrar o encontro com os parlamentares chega até a ser ingênua. “A política econômica que queremos conduzir entende que o Brasil tem que apresentar opções para a moderação da carga tributária, sem prejuízo do equilíbrio fiscal e respeitando os objetivos de proteção social e estímulo ao trabalho e ao investimento. Esse é o novo contrato social em gestação no Brasil, típico de um país que, vencendo a pobreza e sendo cada vez mais de classe média, quer sempre crescer, o que poderá nos colocar em novo patamar de desenvolvimento”, disse Levy.

No documento, o ministro da Fazenda admite que os instrumentos mais habituais de estímulo à economia já foram usados à exaustão. “Portanto, teremos que trabalhar para enfrentar questões estruturais, de forma a dar competitividade ao país em um período em que não poderemos contar com os mesmos preços favoráveis para nossas matérias primas.” Diz ainda que enfrentar a burocracia, as dificuldades de pagar impostos e a incerteza nas regras de negócios é o “imperativo” para o país a crescer. “Junto com o equilíbrio fiscal, esse enfrentamento é o que permitirá encontrar novas condições para o financiamento da economia, inclusive pela modicidade de juros de mercado e não apenas através dos escaninhos tradicionais”, declarou.

Prazo de validade
A nota de Levy parece o testamento de alguém no leito de morte. Tanto no mercado financeiro quanto no mundo político, a avaliação é de que o ministro da Fazenda captou: assumiu o cargo com uma meta de superavit fiscal de R$ 70 bilhões e fecha o ano com um deficit fiscal que pode chegar a R$ 120 bilhões. Levy apenas enxuga gelo. Continua na Fazenda porque a presidente Dilma Rousseff considera humilhante ter que demiti-lo por exigência do ex-presidente Lula, ainda mais para pôr um antigo desafeto no seu lugar, Henrique Meirelles. O mercado aguarda o desfecho da fritura.

O discurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que a crise precisa ser enfrentada com ampliação do crédito e endividamento externo de estados e municípios não combina com o perfil monetarista de Henrique Meirelles, que teria exigido o controle sobre o Banco Central e sobre o Ministério do Planejamento para assumir, ao ser sondado pelo Palácio do Planalto. Nunca houve isso, exceto no período em que Pedro Malan reinou absoluto Ministério da Fazenda, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.

No nevoeiro político de Brasília, as projeções são de que Levy deve sair do governo na virada do ano. Seus amigos economistas dizem que ele já deveria ter chutado o pau da barraca, mas o ministro estoicamente ainda tenta descascar o abacaxi das pedaladas que herdou de Guido Mantega. Seu prazo de validade está vencido. O fracasso do ajuste não é culpa sua, mas ficará na sua conta porque interessa ao ex-presidente Lula e à própria presidente da República. Como disse em conversa com Lula, Dilma não gosta de Meirelles, mas também não gosta de Levy.

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