A decisão do PSDB de pedir o afastamento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, levou a um racha na oposição. Ontem, líderes de 12 partidos, entre eles cinco da base governista, deram “total apoio” a Cunha.
Cunha recebe o apoio de 12 partidos
• Aliados do deputado reagem ao abandono da oposição, mas são menos que metade da Câmara
Isabel Braga, Chico Góis, de Maria Lima Letícia Fernandes- O Globo
BRASÍLIA- Depois do abandono dos principais partidos da oposição, os aliados do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) se mobilizaram ontem para dar uma demonstração de força em plenário. Conseguiram o apoio de 12 partidos, mas que não representam metade da Casa. Em fevereiro deste ano, Cunha foi eleito presidente da Câmara, logo no primeiro turno, com a maioria absoluta dos votos da Câmara.
O manifesto em apoio à Cunha foi proposto pelo líder do PSC, André Moura (SE), um dos aliados mais próximos do presidente, e apoiado por líderes de partidos da base aliada que costumam frequentar os almoços na residência oficial, como PMDB, PSD, PP, PR e PTB. Da oposição, mantém-se fiel a Cunha apenas o Solidariedade. A principal incógnita do apoio a Cunha continua sendo o PT, que não assinou o manifesto e tampouco saiu a público criticando o presidente.
— Aqui são mais de 230 deputados representados por seus líderes que ratificam a confiança na condução de Cunha — disse Moura.
Assim que ele acabou de falar, Rodrigo Maia (DEM-RJ) o corrigiu, dizendo que eram 231, dando seu apoio ao documento
No Conselho de Ética, o PT tem três deputados e poderá ser decisivo para dar continuidade ao processo contra o presidente da Câmara por quebra de decoro parlamentar. Aliados de Cunha avaliavam ontem que o PSDB, ao romper com o presidente da Câmara o jogou “no colo” do PT, e que o jogo se inverteu: o PT poderá ajudar Cunha no conselho e, em troca, ele não dar andamento ao pedido de impeachment de Dilma Rousseff. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem defendido que mais importante que derrubar Cunha, é garantir a governabilidade de Dilma.
Os petistas do conselho, no entanto, garantem que não há pressão sobre o voto a ser dado no próximo dia 24, quando o relatório do deputado Fausto Pinato (PRB-SP) será apresentado aos deputados. Zé Geraldo (PTPA) mantém a disposição de votar para continuar o processo e Valmir Prascidelli (PT-SP), quer esperar o relatório, mas diz que entende que há elementos para aprofundar as investigações.
— Não houve gestão sobre o voto. Vamos avaliar o processo — afirmou Prascidelli.
O líder do PT, Sibá Machado (AC) insiste que os conselheiros terão liberdade para votar:
— Acho errado pressionar os membros do Conselho de Ética. Eles vão agir conforme suas convicções.
Além de ratificar o apoio a Cunha, o manifesto defendeu a continuidade das votações na Câmara, o que é a principal preocupação do governo. Segundo o texto, mais importante que “eventuais disputas políticas” neste momento de crise econômica, é a Câmara votar.
— A oposição mudou de posição porque Cunha mudou o posicionamento em relação ao impeachment. O PR assina a nota, mas dará a seus membros no conselho toda autonomia — garantiu o líder do PR, Maurício Quintella Lessa (AL).
— Respeito o posicionamento do PSDB, mas se todo mundo romper com ele, o que será dessa Casa? Vamos tirar do presidente o direito de se defender? — justificou Rogério Rosso (DF), líder do PSD.
A decisão do PSDB de romper com Cunha foi tomada em reunião na noite da última segunda-feira, na qual a maioria foi a favor do afastamento de Cunha.
— Não elegemos o Eduardo Cunha. Ele nos ofereceu, às claras, um espaço legítimo que cabia à oposição, relatorias da reforma política e nas comissões. Veio a denúncia, demos o tempo para que viessem as provas e que ele se defendesse. Mas a defesa foi absolutamente insatisfatória e nós não seremos sócios desses delitos — disse o presidente do PSDB, Aécio Neves (MG).
Na Câmara, de forma meio envergonhada, sem citar enfaticamente a defesa do afastamento de Cunha da presidência da Câmara, o PSDB focou suas críticas ao peemedebista nas explicações apresentadas por ele para os recursos que mantém no exterior.
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