quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Jarbas de Holanda: Economia é que passa a turbinar cobrança para troca de governo

O desencadeamento de um impeachment presidencial – demanda unitária dos movimentos responsáveis por grandes manifestações de rua, refletindo reclamo semelhante da maioria do eleitorado conforme as pesquisas de opinião pública – foi posto em banho-maria. Por duas razões básicas. Primeira, o acerto antioperação Lava-Jato entre Lula e parte significativa do PMDB (os caciques do Senado, à frente Renan e Sarney, e a maioria da bancada fluminense na Câmara, envolvendo o chamado baixo clero também de outras legendas). Acerto que articulou reações para proteção, mútua, contra a Lava-Jato, bem como seus desdobramentos, com uma “reforma ministerial” destinada a preservar um governo Dilma recomposto sob o comando político do ex-presidente. E segunda razão, o avanço das investigações sobre recursos ilegais existentes no exterior (vinculados ao megaescândalo do petrolão) do presidente da Câmara, Eduardo Cunha. As quais, incluindo a abertura de processo contra ele no Conselho de Ética da Casa, converteram-no de aliado do impeachment em refém do lulismo nesse processo.

Nesse contexto, são a extrema precariedade dos vários indicadores da economia em 2015 e, sobretudo, o cenário de reprodução deles por todo o ano de 2016, com risco de extensão em 2017, as variáveis que passam a afirmar os meios empresariais como maiores demandantes de uma troca de governo. Em face das evidências de que o atual – seja com a recuperação do controle pela presidente, seja com sua tutela por Lula – não tem, nem terá, condições de dar respostas, conjunturais ou estruturais, às crises fiscal e econômica, aos seus agudos efeitos sociais e às inevitáveis consequências políticas. E, muito menos, credibilidade junto aos investidores e demais agentes da iniciativa privada. Crises e efeitos a se agravarem ao longo do próximo ano, com o desemprego atingindo o patamar dos dois dígitos e a persistência da pressão inflacionária (que vai ampliando a reindexação dos preços em geral); com mais um PIB negativo, reprojetado entre -1,8% e -2%, após o deste ano que pode chegar a -3,5%; ademais de uma já esperada perda do grau de investimento do Brasil pelas duas restantes agências internacionais de risco.

3) E consequências políticas, puxadas pela da falta de credibilidade diante do conjunto dos agentes econômicos, que explicam a pauta de respostas a essas crises apresentada como proposta de novo programa do PMDB. De fato, não uma proposta para as disputas eleitorais de 2016 e 2018 (com um conteúdo de reformismo antiestatizante e liberal mais explícito que o do PSDB da campanha de Aécio Neves). Mas, a rigor, tendo em vista que o vice Michel Temer seja reforçado pelos diversos segmentos do empresariado como protagonista de novo comando do Palácio do Planalto, alternativo à ingovernabilidade (ou “desgovernança”, na expressão de Marina Silva) e a completa incapacidade da afilhada de Lula para tais respostas. Colocando-se como “a ponte para o futuro” próximo do país. A ser viabilizada via impeachment ou renúncia de Dilma. O que vem ganhando crescente respaldo de articulações e de manifestações empresariais explícitas. Que passam a pressionar o PSDB para apoiá-la.

Enquanto isso, na outra ponta do tabuleiro, de um lado a presidente trata centralmente de defender o mandato (da ameaça de que o Congresso confirme a rejeição das contas proposta unanimemente pelo TCU), e enredada por extrema dificuldade de aprovação de medidas básicas do mutilado ajuste fiscal, assim como para fechar as do enorme déficit fiscal deste ano, com o pagamento total ou parcelado de antigas e novas bilionárias pedaladas, entre outros sufocos administrativos e institucionais. E, de outro lado, Lula retoma o empenho para esvaziamento e substituição do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Cujo curto “prazo de validade” (previsto em outubro pelo ex-presidente) está condicionado agora a uma avaliação do Planalto sobre o impacto que seu afastamento terá no mercado e nas agências de risco. Cálculo feito com a expectativa de que esse impacto já esteja “precificado”, e possa ser compensado pela escolha de um substituto com imagem semelhante. Mas que abra espaço para progressiva, e mais rápida possível, retomada dos estímulos ao populismo consumista do lulopetismo.

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Jarbas de Holanda, jornalista

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