• Governo avalia que terá de recomeçar do zero recomposição da bancada de apoio após prisão do líder no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS)
Tânia Monteiro, Isadora Peron e Vera Rosa - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O Palácio do Planalto avalia que terá de começar do zero a recomposição da sua base aliada após a prisão do líder do governo, senador Delcídio Amaral (PT-MS). A impressão ali é que a articulação política do governo, após o forte revés, está “combalida” e será necessário agir muito rápido porque em pouco mais de 20 dias o Congresso vai entrar em recesso.
Até lá, o Planalto precisa aprovar a nova meta fiscal de 2015, para que a presidente Dilma Rousseff não corra o risco de descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal, realimentando as discussões sobre o impeachment.
Depois de um bom tempo sem se falar direito, o episódio fez com que Dilma e o vice-presidente Michel Temer acabassem conversando anteontem sobre os problemas que vão enfrentar daqui para a frente. A avaliação era de que Delcídio, neste momento, havia se tornado uma peça fundamental em toda a articulação para aprovação de medidas consideradas fundamentais para o ajuste fiscal. Dilma embarca na noite desta sexta-feira, 27, para uma viagem de uma semana fora do País. Temer estará à frente da Presidência e terá ajudar na composição na semana que vem. Os dois precisam estar alinhados.
Novo líder. A presidente busca um novo líder do governo e quer a ajuda do PMDB para a tarefa. Os petistas gostariam que a liderança continuasse com o PT, mas já foram avisados de que terão de ceder a vaga.
O senador Wellington Fagundes (PR-MT) chegou a ter o nome cogitado para substituir Delcídio, mas a presidente preferiu adiar a decisão, enquanto aguarda as tradicionais checagens da vida pessoal do parlamentar. Houve quem sugerisse a possibilidade de o senador, que está fora do País, ser convidado para acompanhá-la em um dos trechos da viagem da semana que vem, para que eles pudessem conversar melhor, mas a proposta não vingou. O governo já avalia outros nomes.
O ministro-chefe da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, passou o dia em reunião com parlamentares da base aliada, trabalhando para reconstruir o que tinha sido colocado de pé e que foi destruído com o escândalo envolvendo Delcídio. Após conseguir obter um “respiro” no Congresso, com a rejeição de medidas da chamada pauta bomba, o governo está novamente em apuros.
O Planalto avalia que Delcídio cometeu erros inadmissíveis. “Uma lambança”, na definição de um dos interlocutores da presidente. Apesar de saber do risco de o senador fazer acordo de delação premiada, o governo não se moverá para defendê-lo, mesmo porque isso poderia ser interpretado como uma interferência na Operação Lava Jato.
A estratégia é evitar, ao máximo, que a nova crise política prejudique ainda mais a já abalada imagem de Dilma. Interlocutores da presidente observam, ainda, que a prisão de Delcídio não trouxe apenas problemas políticos e econômicos para o governo. O episódio, na opinião de ministros, também fechou as portas do Judiciário para o Planalto. Motivo: ao dizer que tinha influência sobre o Supremo, Delcídio deixou os ministros da Côrte em situação delicada.
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