• Condenação do partido a Delcídio Amaral contrasta com defesa a Dirceu e Vaccari
Após defender e aplaudir o ex-tesoureiro Vaccari e o ex-ministro José Dirceu, presos, o PT fala em expulsar Delcídio.
Sérgio Roxo, Chico Gois, Simone Iglesias Catarina Alencastro – O Globo
-SÃO PAULO e BRASÍLIA- O PT adota com o líder do governo do Senado, Delcídio Amaral, preso na quarta-feira por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), um tratamento muito mais duro que o dispensado a outros nomes da legenda envolvidos na Operação Lava-Jato, como o ex-ministro José Dirceu e o ex-tesoureiro João Vaccari Neto.
Com o argumento de que Delcídio não estava em atividade partidária quando foi flagrado tentando obstruir as investigações, o comando da legenda decidirá, já na próxima semana, uma possível expulsão do senador.
Em evento promovido ontem pelo Instituto Lula, em parceria com a Central Única dos Trabalhadores (CUT), o presidente do PT, Rui Falcão, admitiu que o líder do governo recebe tratamento diferente ao destinado a Vaccari.
— Tem uma diferença clara entre a atividade partidária e a atividade não partidária — disse Falcão.
Em nota divulgada após a prisão de Delcídio, o presidente do PT disse que o partido “não se julga obrigado a qualquer gesto de solidariedade” com o senador, porque nenhuma das tratativas atribuídas a ele tem relação com sua atividade partidária. Em setembro, quando Vaccari foi condenado a 15 anos por corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa, o partido criticou a decisão do juiz Sérgio Moro. Na época da prisão de Dirceu, em agosto, o PT decidiu não assumir a defesa de seu ex-presidente, mas, em entrevistas, Falcão tem afirmado que é preciso aguardar a defesa do ex-ministro sobre as acusações de que teria recebido benefícios pessoais, como o pagamento da reforma de uma casa e de voos em jatos particulares, custeados por dinheiro desviado da Petrobras.
Ambos os casos se tratam de questões pessoais, mas tiveram tratamento diferente de Falcão. Enquanto o presidente do PT defende a reação dura contra Delcídio por essa razão (a questão pessoal), com Dirceu o mesmo argumento é usado para dar-lhe o direito de defesa
— Houve um entendimento partidário de que todas as ações do Vaccari para recolher contribuições seguiram a legislação. A acusação de que havia uma relação (do dinheiro arrecadado) com propina não foi provada, e ele tem direito de recorrer. O entendimento do PT é que ele foi acusado pela função que exerceu como tesoureiro. Não há nenhuma acusação de caráter pessoal, de enriquecimento, de atitude autoritária, de burlar a lei — afirmou Carlos Árabe, secretário de Formação Política do PT, que apoiou a nota de Falcão contra Delcídio.
Defesa de expulsão do partido
Na comparação com o caso de Dirceu, os petistas citam que as provas contra o exministro não são tão evidentes quanto a gravação em que Delcídio oferece R$ 50 mil para o ex-diretor Nestor Cerveró não citá-lo em delação premiada.
O fato de o líder do governo ser um ex-tucano, sem ligações históricas com o PT, também ajudou a dar força à postura da cúpula partidária de lavar as mãos no seu caso. O episódio é visto como uma chance de a legenda tentar passar para a opinião pública a imagem de que também combate a corrupção.
Alguns dirigentes petistas já assumem a defesa da expulsão do senador.
— Pessoalmente, sou favorável à expulsão — disse ontem o presidente do PT de São Paulo, Emídio de Souza, ao participar do mesmo evento que Falcão.
O diretório do Rio Grande do Sul também divulgou ontem uma nota defendendo o afastamento imediato do líder do governo no Senado. Mas a posição contra Delcídio está longe de ser um consenso no PT. As bancadas do Senado e da Câmara consideraram a nota de Falcão precipitada.
A bancada do PT no Senado se sentiu traída pelo presidente do partido e pelo Palácio do Planalto, e deverá procurar a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula e a direção petista para conversar sobre os desdobramentos da prisão de Delcídio. Depois da sessão que manteve o petista na cadeia, na noite de quarta-feira, os senadores se reuniram para analisar a situação. Consideraram que governo e PT tiraram o corpo fora e deixaram o problema no colo da bancada. Somado a isso, consideraram que houve total falta de articulação, a ponto de a nota em que Falcão rifa Delcídio ter sido conhecida pela bancada por meio do senador oposicionista Ronaldo Caiado (DEM-GO).
— É preciso um freio de arrumação para unificar o discurso. Temos que conversar. Não houve uma articulação entre PT, governo e Senado. A bancada ficou destruída — disse um petista.
Os senadores se mostraram irritados por não terem sido avisados por Falcão do teor da nota e porque seu conteúdo, praticamente antecipando a expulsão de Delcídio do PT, interferiu na posição dos outros partidos, que recuaram e passaram a defender a votação aberta. Em nenhum momento, relataram senadores do partido, Falcão discutiu o conteúdo da nota. O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), tomou um susto ao ver Caiado lendo o texto em plenário. Tentou falar com Falcão por telefone, mas não conseguiu.
— Se Rui tivesse falado com a gente, poderíamos talvez até ter tomado outra decisão, defender o voto aberto. De qualquer forma, acho que não se faz isso com um companheiro, é covardia — afirmou um senador petista ao GLOBO.
Nas palavras de outro petista, o dia foi um desastre:
— O governo e o PT jogaram Delcídio aos leões na primeira hora do dia. O governo, logo de pronto, deixou claro que já procurava um líder.
Antes de se reunir com a cúpula partidária, o PT no Senado tem uma preocupação mais imediata. Delcídio era o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), a segunda mais importante do Senado. A discussão é se o partido deve indicar já outro nome, atropelando o líder que está preso.
Falcão minimizou a reação da bancada no Senado e uma divisão no partido sobre o futuro de Delcídio:
— Ele (Humberto Costa) falou pela bancada de senadores. É a opinião dele. Não há divisão, porque eu expressei uma opinião, e essa opinião vai ser debatida pela Executiva com maior profundidade, inclusive com consequência práticas. -BRASÍLIA- O agravamento da crise política, com a prisão, na quarta-feira, do líder do governo no Senado, senador Delcídio Amaral (PT-MS), acusado de obstruir as investigações da Operação Lava-Jato, gerou um impasse que pode ter como desfecho a paralisação da máquina pública. E, para complicar ainda mais a situação, a equipe econômica está dividida em relação ao caminho a seguir. Com a prisão de Delcídio e a forte repercussão do fato no Senado, o presidente da Casa, Renan Calheiros, adiou para a próxima terça-feira a votação, no Congresso, da revisão da meta fiscal de 2015, que foi ajustada para acomodar um déficit de até R$ 120 bilhões.
Só que o governo tem prazo até segunda-feira, dia 30, para editar o último decreto de programação financeira do ano e decidir se adota uma meta que ainda não foi aprovada pelo Congresso, ficando sujeito a sanções do Tribunal de Contas da União (TCU), ou se ajusta o decreto à meta atual, já aprovada pelo Congresso, que é de superávit de R$ 55,3 bilhões, o que exigiria um corte no Orçamento de R$ 107 bilhões. Isso, na prática, não é factível, mesmo com a suspensão de todos os gastos não obrigatórios do governo, o que paralisaria a máquina pública.
Nenhum comentário:
Postar um comentário