Valdo Cruz, Isabel Versiani – Folha de S. Paulo
• Equipes de Levy e Barbosa ligam para investidores e economistas e tentam passar mensagem positiva
• Planalto tenta evitar que ganhe força tese de que ministro da Fazenda saiu derrotado na definição da meta
BRASÍLIA - A reação negativa do mercado à redução da meta fiscal, com dólar em alta e Bolsa em queda, levou a equipe econômica a deflagrar uma operação para tentar reverter o clima adverso ao Brasil entre economistas e investidores nacionais e estrangeiros.
Logo pela manhã desta quinta-feira (23), assessores dos ministérios do Planejamento e da Fazenda entraram em ação e começaram a ligar para economistas de bancos nacionais e estrangeiros com a mensagem de que a redução da meta não significa "afrouxamento nem abandono do ajuste fiscal".
Ao final da tarde, já com o mercado no Brasil fechado, foi a vez de Joaquim Levy (Fazenda) entrar em campo. Ele participou de uma conferência por telefone organizada pelo banco JPMorgan com economistas e investidores brasileiros e estrangeiros.
Na conferência, que teve mais de 1.400 participantes, Levy justificou a redução da meta diante do cenário de forte retração das receitas e frisou que ela não alterará de forma significativa a dinâmica da dívida do país.
Para ele, as agências de classificação de risco percebem que o país tem capacidade de lidar com os problemas com "vigor e realismo" necessários para garantir a retomada do crescimento.
"A beleza da economia brasileira é a capacidade de reagir e reagir rapidamente."
Em seus contatos, as equipes de Levy e Nelson Barbosa (Planejamento) buscavam ressaltar que o governo está sendo "transparente" e "realista", evitando um "tom otimista" descolado da realidade.
Um dado era enfatizado nas conversas, que o governo, mesmo reduzindo a meta de superavit primário de 1,1% para 0,15%, fez um novo corte de despesas de R$ 8,6 bilhões, o que sinaliza, segundo os assessores, um "compromisso" com o reequilíbrio das contas públicas.
Dentro da estratégia de acalmar o mercado, Barbosa estará nesta sexta-feira (24) em São Paulo para conversas com economistas de bancos e consultorias para explicar os ajustes no superavit.
Imagem de Levy
Além de garantir que o Brasil segue comprometido com o ajuste fiscal, outra preocupação do governo era evitar que prosperasse a imagem de que Levy saiu derrotado na definição da nova meta.
O ministro da Fazenda passou as últimas semanas defendendo a importância de manter ou fazer a menor redução possível da meta. Neste ponto, perdeu a disputa, pois prevaleceu a posição do Barbosa, que defendia a redução imediata do superavit.
A presidente Dilma tomou a decisão na terça-feira (21). Até então, ela pensava em bancar uma redução menor, como defendia Levy. Mudou de ideia depois de ser apresentada aos dados de queda acentuada da receita.
Segundo assessores, a presidente não queria estar exposta a novos questionamentos, como os do TCU (Tribunal de Contas da União), de que o governo faz manobras em suas contas para melhorá-las artificialmente.
Levy até tentou garantir uma meta maior propondo um corte mais forte de gastos e mais medidas de geração de receitas. Foi convencido, porém, de que as propostas não eram viáveis neste momento.
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