Mercados têm reação ruim a mudança na meta fiscal e dólar vai a R$ 3, 21
Alvaro Campos, Fabrício de Castro e Luiz Guilherme Gerbelli – O Estado de S. Paulo
O mercado financeiro reagiu com nervosismo às mudanças na meta fiscal anunciadas pelo governo na quarta-feira. Ontem, o dólar fechou em alta de 1,98%, a R$ 3,291, a cotação mais elevada desde 19 de março. A Bolsa também sofreu. O Ibovespa - principal termômetro do mercado acionário recuou 2,18%, aos 49.806,62 pontos, menor nível desde 16 de março.
Na avaliação dos agentes econômicos, a mudança no cenário fiscal fez subir o risco de a economia brasileira ser rebaixada pelas agências de classificação de risco. Na quarta-feira, a equipe econômica reduziu a meta de superávit primário deste ano de R$ 66,3 bilhões (1,13% do PIB) para R$ 8,74 bilhões (0,15% do PIB). Além da economia menor, o governo passou a permitir um abatimento de R$ 26,4 bilhões se houver frustração de receitas, o que permite ao governo fechar o ano com um déficit primário de até R$ 17,7 bilhões. O superávit dos próximos anos também foi reduzido. A meta de 2%, prevista inicialmente para 2016, só deverá ser cumprida em 2018.
"A possibilidade de abatimento da meta, que pode levar a um número negativo em 2015, foi mal recebida", afirma Silvio Çampos Neto, economista da consultoria Tendências. "O resultado mim do fiscal em 2015 todo mundo já esperava. Mas 2016 e 2017 com cortes, isso pegou mal", diz José Faria Júnior, diretor da Consultoria Wagner Investimentos
A piora da percepção da questão fiscal se soma a um momento de forte turbulência no cenário interno e externo. Interna-mente, a recessão da economia brasileira tem se mostrado mais forte do que o previsto e, na política, o governo lida com os desdobramentos da Operação Lava , Jato e tem dificuldade para negociar com o Congresso. No cenário externo, o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) deu sinais mais claros de que deve promover uma alta dos juros em 2015, o que favorece a desvalorização do real.
Risco. Esse quadro fez aumentar o risco de a Moody"s - que esteve recentemente no País -reduzir a nota do Brasil em um degrau, mas com viés negativo. Ou seja, o País continuaria como grau de investimento, mas muito perto de perder esse selo.
"Antes, a expectativa mais consensual era a de que haveria o rebaixamento pela Moody"s, mas com uma perspectiva estável. Mas, diante dos fatos recentes, o risco maior é de o rebaixamento vir acompanhado de uma perspectiva negativa", diz Campos Neto, da Tendências.
Em relatório, o economista-chefe do banco UBS, Guilherme Loureiro, afirmou que, embora as novas meta sejam mais realistas, elas são muito baixas para sinalizar uma melhora nas contas públicas.
"As novas metas não são suficientes para estabilizar a dívida pública no Brasil até 2018. As agências de rating têm dado o benefício da dúvida ao governo, contanto que a gente continuasse a ver progressos no aperto fiscal e desde que as dinâmicas de dívida se estabilizassem após a piora em 2015/2016", diz o texto. O UBS diz que a probabilidade de a dívida bruta superar 70% do PIB é alta e lembra que esse ! tem sido um patamar importante na avaliação da Mood"s.
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