• Partidos fazem pressão para instalar a comissão de impeachment
Em clima de tensão, líder da Rede critica estratégia petista de fazer ‘ apologia do confronto para se defender de acusações’. Delação de Delcídio deve ser homologada no STF
A ex-senadora Marina Silva (Rede) criticou ontem o PT, seu antigo partido, por “fazer apologia do confronto” para se defender das acusações contra seus integrantes, incluindo o ex-presidente Lula, na Operação Lava Jato. Em clima de tensão crescente em Brasília, partidos de oposição prometem se revezar em discursos no plenário do Congresso, a partir de hoje, com ataques ao governo, além de obstruir as votações até que a comissão de impeachment da presidente Dilma seja instalada. O governo, que deverá enfrentar outro revés, com a homologação da delação premiada de seu ex-líder no Senado Delcídio Amaral, tenta articular sua base para enfrentar a obstrução no Congresso. Lula deverá se encontrar novamente com Dilma para discutir saídas para a crise.
Temperatura em ebulição
• Marina critica PT, e oposição vai obstruir votações até a criação da comissão de impeachment
Renata Mariz , Bárbara Nascimento e Eduardo Barretto - O Globo
- BRASÍLIA- Governo e oposição iniciam a semana, que antecede as manifestações de rua previstas para o próximo domingo em todo país, pintados para a guerra. Após uma semana de desgaste, com denúncias que colocaram a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no centro do escândalo de corrupção da Petrobras, o governo terá uma semana difícil também no Congresso.
O clima é de confronto. A oposição promete obstruir a pauta até que a comissão do impeachment seja instalada, além de reforçar os ataques ao Planalto, na tentativa de angariar mais adesão ao protesto do dia 13.
Marina Silva, fundadora da Rede, reapareceu ontem em Brasília e atacou a postura do PT, seu ex- partido, de “fazer apologia ao confronto para se defender de acusações”. Disse que o povo brasileiro merece ser reparado por erros do governo.
— É triste, obviamente, ver um partido, que no passado suscitou tantas esperanças na defesa da ética e no combate à corrupção, agora tendo que fazer apologia do conflito, do confronto, para se defender de acusações — afirmou Marina, em referência ao PT e ao comportamento do partido depois da fase mais recente da Operação Lava- Jato, em que Lula foi alvo.
Na expectativa de um encontro de Dilma com Lula — para se discutir uma agenda que tire o governo das cordas numa semana em que o ministro Teori Zavaski deve homologar a delação premiada do senador Delcídio Amaral (PT- MS)—, a ordem entre os líderes da base também é partir para cima e rebater acusações. Os parlamentares governistas devem acentuar a pressão para que Dilma se aproxime da pauta do PT, principalmente na agenda econômica que flexibilize o aperto fiscal, desamarre gastos em investimentos e aumente oferta de crédito.
Deputados querem incentivar protesto
A delação de Delcídio e o depoimento de Lula agravam a situação de Dilma, com a volta do impeachment à pauta esta semana. A oposição vai tentar protocolar um pedido de aditamento ao processo de impeachment já em tramitação na Câmara, para incluir as denúncias de Delcídio envolvendo Dilma com o escândalo na Petrobras. E vai obstruir todas as votações na Câmara para pressionar pela instalação da comissão do impeachment.
Os líderes da oposição permaneceram o fim de semana em Brasília para acompanhar de perto os desdobramentos da crise política e prometem garantir número para abrir a sessão hoje nas duas Casas, para pôr fogo no plenário com discursos sobre Lula e a presidente. A previsão é que o Supremo Tribunal Federal (STF) volte a analisar esta semana a decisão sobre o rito do impeachment na Câmara.
Num clima de tensão que deixa apreensivo não só o núcleo palaciano, o domingo foi de muitos boatos sobre o plantão do ministro Teori Zavaski e de técnicos do STF para finalizar processos de delação que podem desembocar em mais uma leva de denúncias de parlamentares investigados na Lava- Jato, inclusive o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
A semana é considerada decisiva pelos oposicionistas para ampliar a dimensão das passeatas pró- impeachment marcadas para o próximo domingo. Líder do PSDB na Câmara, o deputado Antonio Imbassahy (BA), disse que, ao contrário das manifestações passadas, desta vez os parlamentares estão atuando de forma ativa:
— Estamos entrando de corpo e alma, usando a estrutura partidária. Com as redes sociais do partido, dos parlamentares e dos diretórios, vamos conseguir mais apoio — prevê.
Os parlamentares da base também chegarão a Brasília com o mesmo espírito armado, dispostos a questionar uma suposta perseguição ao PT:
— Quem vai com tudo é a gente. Estamos com sangue nos olhos — disse o senador Lindbergh Faria (PT-RJ).
— No que depender do governo, a Câmara vai funcionar. Vamos vencer tentativas de obstrução — diz José Guimarães ( PT- CE), líder do governo na Câmara.
Não bastasse o desgaste com as denúncias divulgadas semana passada — apontando o conhecimento de Dilma e Lula do esquema de corrupção na Petrobras —, o depoimento do ex-presidente na Lava- Jato e as dificuldades no Congresso e na economia, a convenção do PMDB marcada para sábado pode agravar o isolamento da presidente.
O encontro do PMDB é um potencial palco para críticas contra a gestão Dilma, reforçando a tese de saída do governo. A expectativa é que o vice-presidente Michel Temer seja reconduzido à presidência do partido na convenção.
— Diante dos fatos da semana, ninguém quer botar a cara para defender Dilma. O terreno na convenção é mais fértil para quem propõe o desembarque do governo e os protestos contra o PT — afirma o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB- BA).
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