Leandro Colon – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Em relatório assinado neste domingo (6), o delegado Luciano Flores de Lima, da Polícia Federal, afirmou que o ex-presidente Lula se negou, num primeiro momento, a sair de casa para prestar depoimento em uma sala do aeroporto de Congonhas, durante a 24ª fase da Lava Jato.
O petista, segundo o delegado, disse que só deixaria seu apartamento "algemado". Flores de Lima foi o chefe da equipe policial que esteve no apartamento de Lula na manhã de sexta (4) durante a Operação Aletheia, que investiga a relação do ex-presidente com empreiteiras envolvidas no esquema de corrupção na Petrobras.
A PF chegou na casa de Lula às 6h de sexta. A porta foi aberta pelo próprio, que então, na versão policial, foi informado da busca e apreensão no local e de que deveria acompanhar a polícia até Congonhas. "A fim de que sua saída do prédio fosse feita antes da chega de eventuais repórteres e/ou pessoas que pudessem fotografar ou filmar tal deslocamento", disse o delegado.
Foi quando Lula, segundo ele, recusou-se a acompanhá-lo: "Foi dito por ele que não sairia daquele local, a menos que fosse algemado. Disse ainda que se eu quisesse colher as declarações dele, teria de ser ali", contou Flores de Lima.
"Respondi então que não seria possível fazer sua audiência naquele local por questões de segurança, pois tão logo alguém tomasse conhecimento disso, a notícia seria divulgada e poderia ocorrer manifestações e atos de violência nos arredores daquele local, o que prejudicaria a realização do ato", informou o delegado, em documento tornado público pela Justiça Federal do Paraná.
A manifestação da PF ocorre em meio à polêmica sobre a condução coercitiva de Lula determinada pelo juiz federal Sérgio Moro na sexta. O ex-presidente e aliados, como a presidente Dilma Rousseff, consideravam a medida abusiva.
O ex-presidente afirmou que se sentiu um "prisioneiro" e que compareceria espontaneamente para depor caso fosse intimidado. Dilma falou em "absoluto inconformismo" com o episódio. O ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello também se manifestou contrariamente.
No sábado (5), o juiz Sérgio Moro e os procuradores da Lava Jato se manifestaram defendendo a medida.
Pelo relato do delegado da PF, Lula foi informado que, caso se recusasse a acompanhar a autoridade policial, seria então aplicada a condução coercitiva, ou seja, ele seria levado à força para depor. "Momento em que lhe dei ciência de tal mandado", diz Flores de Lima.
Após conversar com seu advogado, Roberto Teixeira, por telefone, Lula concordou em seguir para o aeroporto. "Logo depois de ouvir as orientações do referido advogado, o ex-presidente disse que iria trocar de roupa e que nos acompanharia", afirma o relatório.
A PF diz que Lula entrou numa viatura "discreta", tendo sido orientado a ficar em posição atrás do motorista, "sem aparecer entre os bancos, pois assim impediria que qualquer pessoa que estivesse na rua conseguisse captar sua imagem".
De acordo com o delegado, as perguntas e respostas do depoimento foram gravadas em áudio e vídeo para posterior transcrição. "Após a assinatura do termo [do depoimento], foi permitida a entrada no local de diversos parlamentares federais que batiam na porta e chegaram a forçar para entrar naquele recinto, durante a audiência", destacou Flores de Lima.
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