segunda-feira, 7 de março de 2016

Dados do PIB apontam um futuro sombrio para o país – Editorial / Valor Econômico

A capacidade de crescimento futuro da economia está sendo comprometida em intensidade e velocidade preocupantes, mostram dados do Produto Interno Bruto (PIB), divulgados na semana passada pelo IBGE. Os investimentos sofreram uma redução recorde de 14%. Se seguir nessa toada, o Brasil deverá não apenas passar por uma forte recessão, que alguns economistas dizem se aproximar de uma depressão, mas também por um longo período de estagnação logo adiante.

O PIB sofreu uma retração de 3,8% em 2015, segundo os dados do IBGE, e a retração acumulada da economia poderá chegar a mais de 7% em dois anos, caso se confirme a projeção média de queda de 3,4% em 2016 feita por economistas do mercado financeiro, segundo levantamento do Valor Data.

A passos acelerados, corrói-se uma parte expressiva dos ganhos de renda conquistados pela população na última década, com a ajuda do super-ciclo das commodities. O consumo das famílias encolheu 4% em 2015 e, para 2016, a perspectiva é uma nova queda, de 3,5%, segundo os especialistas.

O PIB per capita teve, em 2015, o segundo ano seguido de recuo, de 4,6%. Em 2014, quando a economia ficou praticamente estacionada, com avanço de apenas 0,1%, o PIB per capita diminuiu 0,8%. Dada a perspectiva de continuidade da recessão em 2016 e de fraco crescimento em 2017, em nível inferior à expansão da população, de cerca de 0,8% ao ano, tudo indica que o PIB per capita seguirá em queda. Só em 2018 haveria um leve aumento do PIB per capita.

O desempenho da economia só não foi pior graças ao setor externo, que deu uma contribuição positiva de 2,9 pontos percentuais para o PIB, puxado pela desvalorização da taxa de câmbio. Mas esse fator não foi suficiente para compensar a queda da absorção doméstica, de 6,7 pontos, incluindo o consumo das famílias e do governo e os investimentos.

Entre todos esses componentes da demanda, destaca-se a Formação Bruta de capital Fixo (FBCF), que recua a sete trimestres seguidos. A própria queda do investimento, em si, já é muito negativa, porque significa que o estoque de capitais na economia se expandirá de forma mais lenta - e, dessa forma, a capacidade futura de expansão da economia também seria menor.

Alguns economistas, porém, estão chamando a atenção para o fato de que, com uma queda de 14% em 2015, o fluxo de novos investimentos seria insuficiente para repor o estoque de capitais que está se depreciando. Ou seja, haveria uma destruição no estoque de capital da economia e, portanto, o país estaria dando um passo atrás.

As causas da queda do PIB e da deterioração dos diversos aspectos das Contas Nacionais, com exceção do setor externo, são conhecidas, assim como o diagnóstico para corrigir os problemas.

O Brasil passa por uma correção cíclica clássica, que vai lidar com excessos dos anos passados, como reajustes salariais acima dos ganhos de produtividade, consumo das famílias muito acima da capacidade de produção da economia e expansão desenfreada de gastos do governo.

Findo o super-ciclo das commodities, que permitiu que governo e setor privado vivessem além de suas possibilidades, a recessão impôs-se como caminho para reduzir uma inflação de dois dígitos e um déficit nas contas correntes do balanço de pagamentos que chegou a superar 4% do PIB.

A esse ajuste cíclico se sobrepõe os efeitos da forte queda da confiança de firmas e famílias, causada fundamentalmente pela falta de convicção do governo no ajuste das contas públicas e pela frágil base de apoio político da presidente Dilma Rousseff no Congresso Nacional. Também há as repercussões da operação Lava-Jato, que atingiu em cheio a maior empresa brasileira, a Petrobras, afetando a cadeia de petróleo e gás e o setor de construção civil.

O Ministério da Fazenda previu, em nota divulgada na semana passada, que a economia começará a se estabilizar no terceiro trimestre e a crescer no último trimestre, depois que forem superados os impactos da operação Lava-Jato, da crise hídrica, da alta de tarifas e da desvalorização cambial, entre outros. Mas nada disso será possível sem uma política fiscal que gere superávits primários o mais rápido possível para recuperar os níveis de confiança de empresários e consumidores.

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