Gustavo Uribe, Marina Dias, Valdo Cruz
BRASÍLIA - Em sua primeira declaração pública desde a derrota na Câmara dos Deputados, a presidente Dilma Rousseff afirmou que teve os "sonhos e direitos torturados", se sentiu "indignada" e "injustiçada" com a aprovação do impeachment.
Também acusou o vice-presidente Michel Temer de trair e conspirar abertamente contra ela.
Em pronunciamento nesta segunda (18), a petista disse que nenhuma democracia aceitaria comportamento como o de Temer: "A sociedade não gosta de traidores".
Dilma afirmou ainda que é vítima do "mais abominável crime" que pode haver contra uma pessoa –ser condenada injustamente.
Emocionada, declarou que não está no fim de seu mandato, mas "no início da luta".
Impeachment
A presidente disse que se sentiu "injustiçada" e "indignada" com a aprovação da abertura do processo de impeachment neste domingo (17) pelo plenário da Câmara.
"É muito ruim para o Brasil que o mundo veja que a nossa jovem democracia enfrenta um processo com essa baixa qualidade", disse. Ela repetiu que não cometeu crime de responsabilidade nas chamadas "pedaladas fiscais" e acusou a Câmara de ter reservado a ela um tratamento diferente do oferecido a seus antecessores. "Os atos dos quais eles me acusam foram praticados por outros presidentes antes de mim e não se caracterizaram como ilegais ou criminosos".
A petista também acusou os partidos de oposição de terem aderido à estratégia do "quanto pior, melhor" para impedir que ela governasse com estabilidade nos últimos 15 meses.
Afirmou ainda que o governo não abrirá mão de "nenhum instrumento para exercer o direito de defesa", confirmando que a AGU (Advocacia-Geral da União) recorrerá ao Supremo Tribunal Federal questionando o mérito do processo de impeachment.
Temer
Dilma fez um discurso duro contra o vice-presidente Michel Temer (PMDB). "É inusitado, é estranho, é estarrecedor que um vice-presidente no exercício de seu mandato conspire contra a presidente abertamente. Em nenhuma democracia do mundo uma pessoa que fizesse isso seria respeitada, porque a sociedade não gosta de traidor. Por que não? Porque cada um de nós sabe a injustiça e a dor que se sente quando se vê a traição no ato".
Cunha
Em críticas ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a petista disse que a aprovação do impeachment foi associada à imagem da vingança e do desvio e abuso de poder. "O rosto estampado na imagem que foi transmitida ao mundo é o do desvio de poder, do abuso de poder e do descompromisso com as instituições e com as práticas éticas e morais".
Em uma provocação a Cunha, Dilma lembrou que não há contra ela nenhuma acusação de desvio de dinheiro, de enriquecimento ilícito ou de recursos no exterior. O presidente da Câmara é réu por corrupção passiva e acusado de esconder contas na Suíça.
Novas eleições
A petista não descartou a possibilidade de apresentar ao Congresso Nacional projeto para antecipar para este ano a eleição presidencial, mas disse que não a avalia neste momento. A proposta é defendida como uma "saída honrosa" por ministros e petistas. "Tudo o que jamais podemos aceitar é que o cumprimento da legalidade não se dê no processo. Todas as outras alternativas você pode avaliar, mas não estou avaliando isso agora."
Senado
A presidente antecipou que participará pessoalmente de sua defesa no âmbito do Senado Federal e afirmou que ainda não discutiu com a equipe de governo sobre a relatoria do impeachment na comissão especial.
Favorável ao afastamento da petista, a senadora Ana Amélia (PP-RS) tem sido cotada pelo PSDB e por parte do PMDB.
Dilma informou que se reuniu nesta segunda (18) com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e que ele explicou a ela os encaminhamentos do processo. A presidente afirmou que a ofensiva no Senado será "absolutamente diferente" da realizada com a Câmara, mas não detalhou a distinção.
Tortura e sonhos
Emocionada, Dilma ressaltou que o país vive atualmente "tempos muito difíceis", mas que tem "força, ânimo e coragem" suficientes para enfrentá-los. "Não vou me abater, não vou me deixar paralisar e vou lutar como fiz ao longo de toda a minha vida".
Ela acrescentou que, assim como enfrentou com convicção a ditadura, irá encarar agora um "golpe de Estado".
"De uma certa forma, estou tendo meus sonhos e os meus direitos torturados. Agora, não vão matar em mim a esperança, porque sei que a democracia é sempre o lado certo da história", declaro. Ela disse que a decisão da Câmara não é o começo do fim de seu mandato, mas o início de uma luta que será "longa" e "demorada".
Novo governo
A presidente anunciou que os deputados federais que votaram favoravelmente ao impeachment serão exonerados ou não retornarão à Esplanada dos Ministérios, como é o caso de Mauro Lopes (Secretaria de Aviação Civil).
A petista defendeu a necessidade de um "grande rearranjo" no governo caso consiga barrar o impeachment no Senado, para construir "um novo caminho". "Eu enfrentei o terceiro turno e agora entrarei no quarto turno. Passado ele, além das medidas que já anunciamos, lançaremos outras medidas", disse Dilma, sem detalhá-las.
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