• Aécio defende lista de propostas e diz que sigla ‘não é beneficiária do impeachment’
Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB, começou ontem um ciclo de consultas a integrantes do partido sobre a participação em um eventual governo Michel Temer. A intenção é dar caráter institucional à aproximação e apresentar ao peemedebista uma plataforma que venha com o selo da “unidade partidária”.
O movimento ocorre no momento em que aliados de Temer ventilam a informação de que o senador José Serra (SP) é “cotado” para assumir o Ministério da Saúde, pasta da qual foi titular no governo Fernando Henrique Cardoso.
Aécio se reuniu ontem em São Paulo com o ex-presidente tucano e apresentou a FHC uma lista de demandas genéricas que os tucanos apresentarão a Temer, caso o Senado confirme a decisão tomada pela Câmara no domingo e veja indícios de crime de responsabilidade suficientes para afastar do cargo a presidente Dilma Rousseff. Aécio divulgou uma imagem do encontro em sua conta no Twitter e mencionou a “agenda emergencial” planejada pelo PSDB.
O documento, que foi elaborado pelo senador tucano Tasso Jereissati (CE), defende a simplificação do sistema tributário, compromisso com programas sociais, reforma política e blindagem da Operação Lava Jato.
Na semana depois do feriado, Aécio se reunirá com a bancada do PSDB na Câmara e, em seguida, vai procurar os governadores do partido. O senador, que é contra a indicação de tucanos para cargos, dirá a Temer que o PSDB defende a montagem de um “ministério de notáveis”.
Entre as propostas que os tucanos apresentarão a Temer estão, ainda, a profissionalização das empresas públicas, dos fundos de pensão e das agências reguladoras, acabar com o “impasse” da legislação trabalhista e uma reforma política que inclua a cláusula de barreiras e o fim da reeleição.
Nas últimas semanas, Aécio tem repetido um bordão – “O PSDB não é beneficiário do impeachment” – e dito que, se houver a participação de tucanos em algum ministério, ela será em caráter individual.
O senador mineiro, candidato derrotado na disputa presidencial de 2014, enfrenta outra questão nas conversas sobre uma eventual aproximação com Temer. Aécio foi o principal fiador da ação que o PSDB move no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e que virou um fator de constrangimento, já que poderia provocar também a cassação do peemedebista – a ação não pode ser retirada da pauta do colegiado.
No ano passado, já diante do desgaste da imagem de Dilma mas sem o avanço da mobilização pelo impeachment, o questionamento da chapa que elegeu Dilma e Temer foi o “foco” prioritário do PSDB. “A ação continua tramitando, mas não nos pertence mais”, diz o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PA).
A expectativa do jurista Miguel Reale Jr., autor do pedido de impeachment de Dilma, é que o processo se arraste até 2018, quando perderia objeto devido às novas eleições.
Discreto. Para evitar dar munição ao discurso de “golpe” do PT, Aécio decidiu ficar fora da comissão do impeachment no Senado e ceder a relatoria à senadora Ana Amélia (PP-RS).
Ao indicar o aliado Antonio Anastasia (PSDB-MG) para a presidência do colegiado, o dirigente do PSDB espera dar um caráter “acadêmico e jurídico” ao debate no Senado.
Ex-governador de Minas Gerais, Anastasia é advogado constitucionalista e foi professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
“Se o impeachment for aprovado no Senado, o PSDB deverá apresentar uma agenda emergencial ao Michel Temer”, disse Aécio Neves
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