• Presidente disse se sentir "injustiçada" e "indignada" com a decisão da Câmara dos Deputados de aprovar a admissibilidade do processo de impeachment de seu mandato
Bernardo Caram, Gustavo Porto e Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Em coletiva a jornalistas no Palácio do Planalto nesta segunda-feira, 18, a presidente Dilma Rousseff voltou a criticar fortemente Michel Temer. Ela reafirmou que é "estarrecedor" um vice-presidente conspirar contra sua parceira de chapa. "Em nenhuma democracia do mundo, uma pessoa que fizesse isso seria respeitada. A sociedade humana não gosta de traidor", afirmou. "Nenhum governo será legítimo - que o povo pode reconhecer como produto da sua democracia - sem ser pelo voto secreto, direto numa eleição previamente convocada."
A presidente disse se sentir "injustiçada" e "indignada" com a decisão da Câmara dos Deputados de aprovar a admissibilidade do processo de impeachment de seu mandato. "Considero que esse processo não tem base de sustentação", afirmou durante o seu primeiro pronunciamento à imprensa após a derrota da votação no domingo, 17, na Câmara.
Dilma considerou importante "insistir numa tecla só", ao defender a legalidade da edição de decretos de suplementação orçamentária. "Os atos pelos quais eles me acusam foram praticados por outros presidentes antes de mim e não se caracterizaram como ilegais ou criminosos", disse, ressaltando que as decisões foram tomadas com base em relatórios técnicos. "A mim se reserva um tratamento que não se reservou a ninguém".
A presidente voltou a dizer que a Constituição estipula que é necessário haver crime de responsabilidade para que um presidente seja afastado. Ela frisou que os atos assinados por ela não foram praticados para enriquecimento próprio. "Saio com a consciência tranquila de que os atos que pratiquei, não fiz baseado na ilegalidade", reforçou.
Ressentimento. Dilma disse ainda que não viu ressentimento de deputados retratado na votação de ontem. "Qualquer governo pode cometer erro, mas ressentimento também não é justificativa para nenhum processo de impeachment. Temos que procurar padrão de seriedade maior", disse.
Ela afirmou que o processo foi conduzido com hegemonia muito forte do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Segundo ela, o deputado fez a condução "como quis".
Luta. A presidente afirmou que vai continuar lutando pela democracia. "Na minha juventude, enfrentei a ditadura por convicção e agora eu também enfrento com convicção um golpe de Estado", disse. Ela ressaltou que agora, na maturidade, enfrenta outro golpe. "De certa forma, estou tendo meus sonhos torturados. Agora, não vão matar a minha esperança", disse.
Dilma frisou que o País vive tempos muito difíceis, mas históricos. "O mundo e a história nos observam. Eu tenho ânimo, força e coragem suficiente para enfrentar - apesar do sentimento de muita tristeza - essa injustiça", afirmou. "Não vou me abater, não vou me deixar paralisar, vou lutar como fiz ao longo de toda minha vida".
A presidente disse que a democracia é o "lado certo da história" e ressaltou que vai se defender no Senado. "Ao contrário do que alguns anunciaram, não começou o fim. Estamos no inicio da luta, que será longa e demorada", afirmou. Ela advertiu que, sem democracia, não há como retomar o crescimento econômico e o nível de emprego.
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