- O Estado de S. Paulo
A Dilma Rousseff que falou ontem à nação em tom moderado e de modo paciente e bastante simpático não era a mesma que havia se dirigido ao País por diversas vezes nos dias anteriores à votação de domingo na Câmara de maneira agressiva e provocativa.
A presidente mediu e pesou cada palavra com a finalidade de se despir do figurino da militante aguerrida e adotar a veste da estadista ponderada, moderadamente indignada e convicta de que o jogo não estava terminado. É de se perguntar qual seria a verdadeira Dilma: a que agride ou a que afaga?
Essa oscilação de comportamento remete à atitude da presidente no tocante ao dito na campanha eleitoral e ao feito logo depois de garantida a reeleição. Quem garante que ela expressa uma convicção sincera e não apenas manifesta uma posição artificialmente circunstancial?
Por mais que o PT insista no discurso (de validade vencida) de que a derrocada do governo Dilma Rousseff foi obra dos inconformados com a derrota na eleição de 2014, a realidade insiste em desmentir tal versão que a presidente voltou a defender no pronunciamento de ontem.
Pelo evidente e muito simples motivo de que os perdedores daquela ocasião não são os beneficiários diretos nem os protagonistas da atual situação. A oposição oficial, majoritária e partidariamente representada pelo PSDB, esteve e continua estando na posição de coadjuvante. Sob todos os aspectos.
A destruição do capital político, os escândalos de corrupção, a dilapidação dos fundamentos de uma economia estável e a ineficiência administrativa foram obras de autoria exclusiva do PT, decorrentes de todos os equívocos cometidos não apenas sob a administração de Dilma, mas desde o início do primeiro governo de Luiz Inácio da Silva.
Já a construção do ambiente que propiciou o resultado da votação de domingo e que, tudo indica, será corroborado pelo Senado, deveu-se à atuação do PMDB. Este o protagonista de fato no presente cenário. Obra esta, cuja arquitetura só foi possível porque o PT forneceu os alicerces.
Essas as razões pelas quais o desastre governista não pode ser espetado na conta da oposição oficial, perdedora nas últimas quatro eleições presidenciais. Os tucanos, aliás, sempre foram apontados como adversários muito tolerantes. Provocavam exasperação naquela parcela da sociedade contrária ao governo e que não reconhecia no PSDB um representante à altura, digamos, das necessidades.
No cumprimento do primeiro mandato de senador para o qual foi eleito em 2010, o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves não correspondeu às expectativas de quem o via como o principal antagonista do governo petista. Por suas posições moderadas chegou a ser explicitamente considerado por seus pares do PT na Casa como o chefe “ideal” da oposição.
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