A poucos dias do julgamento do processo de impeachment no Senado, a presidente Dilma intensificou a agenda de viagens e inaugurações. De hoje até dia 11, vai à Amazônia, ao Pará e a Goiás. Ontem, a presidente chamou de levianas as denúncias feitas pelo senador Delcídio Amaral em delação premiada.
• Presidente reage a pedido para ser investigada e critica vazamento
Leticia Fernandes, Eduardo Barretto - O Globo
-BRASÍLIA- Às vésperas da votação no Senado que pode abrir o processo de impeachment e possivelmente vivendo seus últimos dias como presidente no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff reagiu ontem ao ato do procuradorgeral da República, Rodrigo Janot, que pela primeira vez encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) um pedido de abertura de inquérito contra ela. O pedido de Janot, que vê indícios de tentativa de obstrução da Justiça por Dilma na nomeação de Lula como ministro da Casa Civil e na indicação de Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), foi embasado na delação do senador Delcídio Amaral (sem partido-MS), chamado de mentiroso por Dilma:
— As denúncias feitas pelo senador Delcídio Amaral são absolutamente levianas, e sobretudo mentirosas, conforme já reiterei sistematicamente desde que apareceram. Aliás, ele tem a prática de mentir e isso fica claro ao longo de toda essa questão relativa à sua prisão a partir das gravações. Tenho certeza que a abertura do inquérito vai demonstrar apenas que o senador, mais uma vez, faltou com a verdade, como fez anteriormente — disse Dilma após o lançamento do plano Safra, no Planalto.
A presidente destacou que, na primeira gravação, Delcídio acusava ministros do STF, e que depois retirou a acusação.
— Agora acusa a mim. Tenho consciência das mentiras do senador Delcídio Amaral e acho que a credibilidade do senador é bastante precária.
O pedido de Janot deve ser analisado pelo STF nos próximos dias. Dilma anunciou que pedirá à Advocacia Geral da União (AGU) para apurar os vazamentos, que “estranhamente”, ressaltou, ocorreram às vésperas de o Senado julgar a abertura do processo de impeachment.
Além do pedido de abertura de inquérito contra Dilma, também vieram a público nos últimos dias pedidos de investigação feitos pelo procuradorgeral contra adversários políticos de Dilma, como o presidente do PSDB, Aécio Neves, e o recém-rompido prefeito do Rio, Eduardo Paes.
— Lamento que mais uma vez algo muito grave tenha acontecido, o vazamento de algo que pela imprensa eu tomei conhecimento, que ao que tudo indica estava sob sigilo, que estranhamente vaza às vésperas do julgamento no Senado — disse Dilma, acrescentando que os autores do vazamento “têm interesses escusos e inconfessáveis”. — Vou solicitar ao ministro da AGU que solicite abertura no Supremo para apurar esses vazamentos. Esses vazamentos têm uma característica: você vaza, depois, se ficar caracterizado que nada há, o dano já foi feito. Podem ter certeza, quero que essa investigação seja a fundo, e quero saber quem é o autor ou autores do vazamento — disse Dilma, que aproveitou a solenidade no Planalto para fazer um agradecimento à ministra da Agricultura, Kátia Abreu, uma de suas mais enfáticas defensoras nas últimas semanas.
Cassação de Delcídio
O Senado decidiu fazer um rito rápido sobre a cassação de Delcídio Amaral, que tenta adiar a votação que decidirá seu destino. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) vota hoje o parecer favorável à perda de mandato. Ontem à noite, depois de terem apresentado um novo pedido de licença do senador por cem dias (o atual termina amanhã), os advogados de Delcídio protocolaram pedido para que seja cumprido prazo de cinco sessões entre a apreciação do parecer na CCJ e a votação no plenário.
A tentativa deverá ser frustrada. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) disse que a votação da cassação de Delcídio deve acontecer na próxima terça-feira, véspera da votação do processo de impeachment.
— Se a CCJ votar amanhã (hoje) o parecer do Ferraço (Ricardo, PSDB-ES), devemos marcar a votação no plenário para a próxima terça-feira — disse Renan. (Colaborou Cristiane Jungblut).
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